É sempre um desafio conseguir saber a verdadeira intenção de uma
imagem acompanhada de um texto ditada por um profissional. Não é um de
nós, comuns, a ler algo que conhecemos e detemos como verdadeiro. É
alguém que já investigou o assunto e que talvez já formou uma opinião
camuflada do mesmo. Que intenção terá este ao passá-la para o aparelho
que soa em várias divisões? É visível, que no dia seguinte, o espectador
manifesta-se, às vezes não espera as 24 horas para ir para um
transporte e entrar na personagem “comentador” com o passageiro do lado.
O impacto também passa pelas refeições, quando pousamos o garfo para
prestar atenção a algo que nos desperta os sentidos. Aí alimentamos a
notícia e esperamos que esta desapareça até que surja outra não tão
viral. Como se fosse a pirâmide alimentar da primária, do mais
importante para o menos. Semelhante ao alinhamento do jornal; à escolha
das fontes; à estrutura de poder numa redação. Um dia, na América dos
anos 50, um grupo de jornalistas inverteu esta estrutura. A CBS mudava o
sentido que sempre dera à televisão. Um pivô passou para o “lado de cá”
duas versões diferentes de um caso sufocado de tão encoberto. Por
merecer a verdade, a sociedade foi alertada através do relato de crimes
contra comunistas que afinal também são “comentadores”. A palavra de um
Senador contra o senhor com o cigarro que queima em direto. Esta última
figura, segura de si, não teme o preocupado o diretor executivo, a falta
de patrocínios e o primeiro poder democrático. Teme sim a intenção dos
media. De seu nome Edward Roscoe Murrow, “Ed” na redação, opôs-se pelos
direitos civis e consigo levou um grupo de amigos imparciais cuja paixão
aliada ao nervosismo evidenciava-se quando estavam “no ar”. Queriam ser
os primeiros a desvendar que o meio não só enche os lares de anúncios
mas pode também viver da contagiosa informação. Sem tomar partidos,
esperaram por críticas até o bar quase fechar. A reação dos espectadores
disparou o prazer do trabalho mas a sombra amarga da publicidade fez
com que o programa mais tarde terminasse. Contudo, aquele momento em que
público presenteou uma investigação ao Senador e o fim de denúncias
inusitadas, tornou o dever cumprido. Esta comunidade jornalística, dona
de um dialeto próprio em circuito fechado, marcou um período.
Assim,
as opiniões acomodam-se em prol do jornal das 20 horas apresentado por
um estranho com tamanha postura que nos parece credível.
Afinal o
que é a televisão? Um espetáculo de luzes, cores vibrantes e falas
persuasivas numa decadência rotineira? Ou, como diria “Ed” em 1958, a
televisão pode também ensinar, elucidar e inspirar, desde que os humanos
a usem para esse fim?
Toda a exaltação da importância das ideias e
da informação continua a jogar com as nossas mentes com o intuito de
ganhar e termina quando se ouve um “Boa noite, e boa sorte”.
Filipa Alves
Crónica do filme “Good Night, and Good Luck”