A Praxe é injusta... Enchemos mesmo
não querendo. Suamos. Passamos a mão pela testa. Limpamos o suor. Daí a nada o
cenário repete-se. Uma e outra vez. Rebolamos na terra, na relva molhada, onde
calhar. Tingimos a roupa e sabemos que aqueles jeans, que porra, eram tão
confortáveis, tão velhinhos e cheios de estilo, não usaremos nunca mais. A
Praxe rouba-nos tempo. Rouba-nos energias. E isso chateia. Incomoda. Pior do
que uma velha que nunca se cala, a quem fazemos de ouvidos moucos. Então, é
isso, a Praxe é injusta. Falam-nos alto. Fazem-nos gritar mais alto ainda. Até
que a voz doa. Até que a garganta seque.
Não me pode deixar de revoltar que as
massas, essas gentes dos jornais nacionais, dos cafés, dos transportes
públicos, falem da Praxe sem saber sequer por que linhas ela se cose. Sei saber
o que por lá se passa. Contando histórias que apenas alimentam a imaginação de
quem não teve a coragem de ir lá provar. Mas revolta-me ainda mais que tal
aconteça, diante dos nossos olhos e ouvidos, enquanto nós, aqueles que provaram
das suas agruras, dos seus dissabores, pouco ou nada fazemos para que o cenário
se altere. Como é possível que uma tradição académica tão portuguesa e tão
antiga viva ainda nas ruas da amargura, qual reputação manchada qual quê? Como podemos
ser, ainda, incompetentes o suficiente para não ter elevado a imagem da Praxe
junto das “massas”, aproximá-las das pessoas, mostrando que ela é tudo menos um
bicho papão?
Não, a Praxe não é uma bicho papão.
Nem um ser selvagem sequer. A Praxe é injusta. Porque nos tira muita coisa, mas
nos dá ainda mais. É injusta, sim, para com ela própria. Pois nem tão pouco
sabemos retribuir com umas palavras de apreço junto da sociedade. Porque nunca
nos demos ao trabalho de explicar que o que lá se passa nada mais é do que a
mais verdadeira lição de vida. Porque na Praxe não há preconceitos. Nem descriminação.
Na sociedade há. Na Praxe há amor. Amor pela unidade, por um curso, pela
partilha. Há orgulho. Uma força de vontade que nos corre nas veias e não nos
faz desistir. Doa o que doer. Porque a vida, muitas vezes, dói. Mas não é por
isso que deixamos de a viver.
Não, a Praxe não faz de nós melhores
doutores, engenheiros, arquitetos. Mas não tenho a menor dúvida de que nos faz
mais humanos, mais fortes e mais solidários. Mais atentos ao outro e não tanto
aos nossos egos. Era isto que tinha para dizer. É tudo.
Rute Rita Maia, junho de 2014
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