"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O último adeus



É assim que me despeço de ti.
Demorei, é certo, mas preferi que o tempo me aconselhasse e fosse meu companheiro de viagem após aquela conversa que terminou o que tínhamos.
Quero que saibas que não estou rancoroso, não sinto repúdio ou inveja de quem te vá amar. A vida continua e com ela irão surgir outras pessoas, outras paragens, outras memórias que (quem sabe) se poderão sobrepor ao que outrora foi sofrimento.
 

Ainda assim a minha consciência não se sente em repouso. Nenhum de nós ganhou como se de uma batalha se tratasse e de onde, apesar de feridos, nem tu nem eu podemos levantar o punho em sinal de vitória. É altura de ser justo e pedir-te desculpa.

Desculpa por tudo aquilo que não fiz em momentos em que tu mais precisavas que eu fosse o mais forte, perdoa-me se fiz ouvidos moucos aos teus “ais” típicos de mulher que com a sua essência mostra quem é mesmo quando só quer estar chateada para ser mimada, desculpa se não vi o mesmo plano que tu no nosso filme e se o guião que segui foi mais de suspense do que romantismo explícito. Perdoa-me se não fui o namorado idóneo que te prometi que sempre seria, se deixei que o tempo acalmasse o instinto que te amava incondicionalmente. Desculpa se te fiz repensar a vida que terias ao meu lado para depois rasgares esse papel onde tantos sonhos foram escritos e idealizados. Perdoa-me por não ter conseguido ser o homem da tua vida.


Já dei por mim a pensar se serei “boyfriend material”. Se alguma vez conseguirei deixar de lado todas as atitudes, idiossincrasias, sentimentos e disposições que me caracterizam para poder me entregar a quem verdadeiramente amo, a quem o sentimento é recíproco. É certo que não devemos abdicar de quem somos para amar alguém, mas até que ponto isso é verdade? Até onde devemos carregar no “off” para aguentarmos? Pois ... foram esses factores que nos fez chegar onde chegamos. Eu não consegui. Apesar de te amar eu não consegui desligar a pessoa que sou na realidade e ao enterra-la a cada capricho teu tornou-me incapaz de prosseguir para dar-te o que mais querias.

Aprendi contigo, com tudo o que passamos, que vai ser impossível eu abdicar de mim mesmo ... se isso implica que ficarei sozinho? Se tiver de ser assim, decerto que mesmo assim a felicidade não andará longe de mim.

Tudo tem o fim e o livro fechou a nossa história. Sei que vais continuar a escrever a tua, quem sabe num livro com capa dura para aguentar mais ainda do que ai vem. Eu vou mantendo-me a rabiscar o meu bloco, porque a felicidade não está no livro, mas sim naquele que escreve nele.

Até sempre.