Eu vivo contigo. Tu vives de tudo que sou.
És a alma obscura de olhos escuros, à procura dos meus defeitos. És aquilo que não posso ser, a minha antítese, o oposto do que a minha personalidade tem de significativo. A tempestade de relâmpagos pronta a acontecer, o meu falso amigo em tempos menos áureos, o caminho maldito em jornadas errantes da vida. A nuvem cinzenta em cima de uma cabeça por vezes pouco lúcida. Um monstro.
Esquivo ali estás, no canto do meu pensamento apenas à espera para o tormento ser a tua forma de expressão. Alimentas a minha ânsia, os piores frames de memórias e presságios que não adornam o melhor cenário. Ocupas as minhas falhas com promessas de vingança e ego como se essa fosse a solução. Os meus medos são as tuas virtudes, os meus tropeções são o que te faz ser mais veloz. És a máquina malévola que tenho de parar.
Sou exemplo e resultado dos teus actos. Nos meus santuários, em momentos meus é como se estivesses ao meu lado e por vezes replico acções que só a ti fariam sorrir. Sei que somos inseparáveis, que te terei de suportar, talvez seja o castigo para me relembrar que há um lado meu que quero evitar dar o controlo.
És a minha eterna querela, a batalha que vou querer sempre vencer. Vives comigo, mas farei questão de que apenas sejas espectador das minhas conquistas sem que tenhas relevo nas mesmas. Serei David aquando me apareceres como Golias, guerreiro sozinho no teu campo de batalha.
Vais continuar comigo, com a mão sob o meu ombro e o teu reflexo empregue em alguns espelhos, mas não serás senhor da situação nem dono do meu olhar. Caminha comigo, aí, no teu canto. O resto vivo eu.