Beleza. Segundo o
dicionário, termo usado para fazer referência a uma perfeição agradável à vista
e que cativa o espírito, uma pessoa formosa. Desde quando é que a beleza tem de
estar associada à perfeição é que eu não sei...
São milhares. Milhões.
As meninas e as mulheres que lutam diariamente por atingir tal padrão. O de
ser-se belo. Calam as suas inseguranças e fingem ser quem não são. Brincam com
o fogo. Porque foi assim que lhes ensinaram. Porque lhes foram dados modelos a
seguir. Desde que se levantam até que se deitam. A sociedade educa-as para
aspirarem a papéis de beldades. É preciso ter pessoas bonitas. Especialmente
mulheres. E jovens. É preciso implementar a ideia de que temos de ser como
elas.
Deixam de se arranjar
por vontade própria. Passando a fazê-lo por terceiros. Pelo o que irão os
outros julgar. Há que parecer bem. Torna-se um vício. E quanto mais o
alimentamos, menos de nós gostamos. Um dia deixamos de nos ter em consideração
sequer. A nossa opinião já não vale. Quando acordamos já não somos quem éramos
no dia anterior. E tal acontece. Dia após dia após dia. A mensagem que vem de
fora ocupa cada vez mais espaço na tua mente. Entranha-se qual injeccção de
morfina qual quê. Como se de repente somos confrontadas com a ausência de dor.
Como se tudo se tivesse esvaído e o que nos resta agora é a mascara com que
vamos encarar o mundo lá fora. É só menos um quilo, pensamos nós. Não vai fazer
diferença. Mas faz a diferença.
Se nos dizem que
estamos bem, já não acreditamos. Para quê? Estar bem não chega. Há que estar
perfeito. Porém, essa busca pela perfeição é, na verdade, a nossa própria
ruína. Torna-se uma doença. Que nos corrompe sem mais não. E por mais nos tentemos
melhorar. Já não somos capazes de o fazer sem ajuda. Perde-se as forças à
medida que se perderam os quilos. E não se trata somente das forças físicas. Já
é a nossa alma que precisa de tratamento.
O passo seguinte,
muitas vezes, é vingarmo-nos no exercício. Esquecemo-nos entretanto que já nada
irá aliviar a nossa dor. A dor de termos perdido quem somos ao longo deste
percurso. É como viver num corpo que não reconhecemos como nosso. Nada irá
aliviar esta dor. Queremos libertarmo-nos deste corpo. Deste maldito corpo que
só nos dá dores de cabeça e pesadelos. Alguém que nos liberte! Mas ninguém
consegue... Está tudo na alma. Em tudo o que nos fora dito e mostrado durante
anos a fio... Sorrisos plásticos já não são o suficente. A negação também não.
Já percebemos que não somos quem éramos. E pior do que isso, sabemos que, muito
provavelmente, a criança de cinco anos que um dia fomos deve estar cheia de
vergonha da pessoa em que nos tornamos. Onde está essa menina?
O problema é que, no
fundo, sabemos que os últimos responsáveis por esta situação fomos nós. Que permitimos
que a pessoa que éramos e o amor-próprio que sentíamos se esvaísse por entre os
dedos. Que permitimos sermos mais uma boneca no meio de tantas. Que não fomos
sóbrias o suficiente para perceber que ninguém nos pode mudar e moldar aos seus
próprios gostos e interesses.
E só quando chegar essa
noite gélida. A noite em que nos iremos render por completo e entregarmo-nos a
quem nos levará escuridão adentro. Quando a solidão já nos estrangula e não
vemos alma alguma à nossa volta. Aí perguntamo-nos se valeu a pena. Se os
sacríficos valeram a pena. E, por breves momentos, admitimos que não. Que fomos
umas bestas por termos acreditado que a nossa felicidade podia estar sobre o
controlo de outro alguém. E não no nosso, onde sempre deveria ter estado. Já é
mais do que a aparência. Mas sim, uma pessoa que se mudou. O nosso reflexo
sume-se diante dos nossos olhos. E aí perguntamo-nos: foste feliz contigo mesma?
Não.
Nota: "Pretty Hurts", de Beyoncé teve a sua quota-parte no motivo pelo qual publiquei este texto. Espero que vos inspire tanto quanto me inspirou a mim.