"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Suspiro

Campanhã, 11 de Agosto de 2014.

Como muitos outros esperava pela hora de chegada do comboio que me iria trazer de volta a casa após um dia de trabalho. Como distracção olhava em meu redor, pensando que talvez o tempo de espera fosse mais sustentável, mas houve algo que me captou a atenção e fez enriquecer o meu dia.

Chegava à estação um comboio regional, pronto para uma viagem longa. À minha frente estava um casal de jovens namorados prestes a despedirem-se com uma particularidade: ambos eram mudos. Isso não foi impedimento para uma das cenas mais ternurentas que já presenciei. Sem que uma palavra fosse precisa despediram-se apaixonadamente no momento em que ele já de mala na mão se encontrava à porta da carruagem. Aquilo não foi uma simples despedida, foi uma declaração de amor mútuo. O mundo parou naquele instante para eles. 

O contacto entre ambos não terminou no momento em que o rapaz subiu o degrau do comboio. Com o olhar a rapariga seguiu o seu trajecto até ele encontrar o seu lugar, onde ficou ao lado da janela para a poder contemplar. Ai voltaram a "falar", prometendo voltar a comunicar no momento em que o comboio terminasse a sua função ingrata de os separar por momentos. O inevitável aconteceu e o comboio saiu da estação rumo a outras paragens. Nesse momento, em que um adeus foi imprescindível, foi quando (já o comboio ia longe) a rapariga coloca a mão no peito e larga um suspiro. Aquele suspiro foi sentido, foi único, foi prova de amor para com aquele rapaz que partia numa certa carruagem ... Saiu cabisbaixa da estação, sabendo que parte dela também foi naquele comboio.

Tinha a acompanhar-me o som que os meus phones alimentavam os meus ouvidos mas foi aquela melodia que os meus olhos captaram que me prendeu. Não foram precisas palavras para que o sentimento estivesse lá, o afecto estava em todo o seu esplendor naquele momento que mesmo que só durasse um par de minutos para eles foi a eternidade no seu auge.

Na minha viagem de regresso não deixei de pensar no momento e sorria sabendo que afinal o Mundo tem momentos absolutamente fantásticos e que nem tudo tem de ser frio ou vazio. O amor existe e não precisa de exageros, apenas precisa de existir e ser alimentado.

Não conheço as pessoas em questão (quem sabe se algum dia poderão ler isto) mas desejo-lhes as maiores felicidades. Quem ama assim merece um final feliz.



2 comentários:

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Belíssimo texto, obrigado pela partilha.

Daniel André Teixeira disse...

Obrigado nós (em nome do Crónicas em Branco) pela sua atenção.

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