Estamos
a algumas horas das eleições presidenciais americanas e – se o expectável era
que a ansiedade fosse ficando cada vez maior – a verdade é que é, precisamente,
neste momento que respiro de alívio pela primeira vez.
Depois
da última semana, ou talvez mais, em que várias sondagens divulgavam aquilo a
que chamamos de “empate técnico” entre os candidatos Trump e Hillary, com
diferenças percentuais tão ridiculamente mínimas que, a ter em conta as margens
de erro, tornavam inconclusivas quaisquer análises, saíram, nas últimas horas
desta segunda-feira, novos resultados que, mesmo a ter em conta os 2 ou 3% de
margem de erro, concediam a vitória a Hillary Clinton.
Não
nos vamos esquecer que, ao longo de toda a campanha, de um modo geral, os
estudos de opinião feitos nunca obtiveram resultados suficientemente
confortáveis, que me permitissem ficar sentadinha no sofá, sossegadita por
estar garantida a vitória de Clinton. Muito pelo contrário, esta campanha foi
um teste à minha capacidade de resistir ao stress. Porém, mesmo sabendo que
estes últimos dados possam ter sido fruto, em parte, da aparente acalmia do FBI
em relação à sua investigação a Hillary e, pondo mesmo em hipótese, a inibição
que alguns americanos poderão sentir na hora de responder a uma sondagem
revelando a intenção de votar em Trump (muito por culpa das opiniões
controversas do candidato), respiro finalmente de alívio por aumentar a
probabilidade de vencer a candidata democrata.
Os
apoiantes de Trump que me perdoem, mas governar um país é muito mais do que
falar em desemprego, em mexicanos, em capital, em muros e, naquilo que eu
apresento como, a nova vaga de “escravatura” que Trump pretende implementar
nos EUA. Os americanos seriam os novos escravos do magnata que, a troco de
nada, investem o seu voto num empresário “de sucesso” (à la sonho americano), o qual pouco conhece de direitos dos
trabalhadores, mas parece dominar as ideias supérfluas do racismo, do sexismo,
do assédio e da covardia. Além disso, receio que, com a vitória do republicano,
se acabe a noção de diplomacia nas relações norte-americanas e que assistamos a
uma espécie de Brexit à americana,
com o desinteresse pelas organizações internacionais. Nem a mais recente vaga
de apoiantes “Women for Trump” consegue apagar da minha memória as conversas de
balneário do republicano com os seus amigos loiros, de rosto alaranjado pela
base em excesso, com discursos machistas, populistas e demagogos.
Do
lado oposto, ao longo da campanha de Hillary Clinton, muitas pessoas pareciam
mais preocupadas em confrontar a candidata com a governação do seu marido do
que propriamente em interpelá-la acerca das suas ideias e carreira política.
Sim, porque o meio político não é algo desconhecido para Hillary e não me
refiro aos anos em que Bill Clinton foi presidente. Mas sim, aos anos da vida
da democrata investidos na sua própria carreira desde que se graduou em Ciência
Política, do período de assessora jurídica do Congresso à liderança na defesa
da criação do Programa de Seguro de Saúde para Crianças, da Lei da Adoção e da
Segurança Familiar e da Lei dos Adotivos Independentes, do período de senadora,
sendo a primeira First Lady a
concorrer para um cargo político eletivo, ao seu tempo de secretária de Estado
do governo Obama quando se tornou a primeira mulher a ser nomeada para a
presidência por um grande partido político norte-americano.
Trump
coloca abaixo de si as mulheres com quem se envolve, já Hillary vê o nome do
seu marido sobrepor-se ao seu na hora de falar em público, na mídia, por entre
os republicanos.
A balança parece estar bem desigual; de um
lado, um populista, do outro lado, a miúda popular. No entanto, os americanos
parecem estar mais desencantados e divididos do que nunca e isso lá vai beneficiando quem professa separatismos e discursos fáceis de vender, o que, de
alguma forma, vai equilibrando a balança.
Resta
esperar pela madrugada de terça para quarta, para sabermos oficialmente como
culminará esta season finale das presidenciais americanas 2016, com a certeza de que, qualquer que seja o
resultado, estas eleições já têm lugar VIP
na história política americana e mundial.
«Se Donald Trump
ganhar, a América será como um planeta que sai da sua órbita e que viajará sem
tino nem destino pelo espaço sideral da vida política global.» in Público
«Jackson acha que o apoio a Trump
é, acima de tudo, “uma resistência à Presidência de Obama e aos direitos
conquistados pela comunidade LGBT, por exemplo”.» in Público
«“Votei pela primeira vez durante a
Presidência de Reagan, e nessa altura era inimaginável virmos a ter um
Presidente afro-americano e, possivelmente, uma Presidente mulher. Bastava
dizer as palavras ‘Casa Branca’ e a imagem que surgia era a de homens brancos
vestidos de fato e gravata. Essa maré tem vindo a mudar muito lentamente nos
últimos 100 anos, e por isso olho o futuro com optimismo.”» in Público
Rute Rita Maia