"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Verdades sobre um ano a rebentar

Lembro-me do dia em que ouvi duas raparigas falarem da vida, daquela que está para chegar. Melhor, daquela em que tanto anseiam estar.

Falavam da vida universitária – mais não poderia ser.

Mas será que por aquelas cabeças, cheias de tudo excepto uma visão realista das coisas, passava a verdadeira ideia do que é ser um estudante universitário? Do quão duro é? Do quanto nos ocupa as vinte e quatro horas por dia, os sete dias por semana, os trinta dias do mês e os quase doze meses do ano?

Daquelas bocas ouviam-se os termos festas, festarolas, festões, festonas. Em tanto parlapier não ouvi uma única vez as expressões trabalho, empenho, dedicação ou até ambição. Na altura não liguei muito ao que diziam, mas agora, na recta final do ano, tenho a certeza que não podiam estar mais enganadas e que era deprimente a limitação delas no que toca à nossa vida como alunos do superior.

Que algum dia esta crónica vos chegue às mãos e vos abra as portas para a realidade – pura e crua, sem enfeites – e vos tire dessa amarga ignorância que vos impingiram, ou será que decidiram tomar algo que viam naqueles filmes rascas, bem ao estilo Morangos, e torná-lo na vossa própria fantasia? Mas quem sou eu para discutir os vossos gostos íntimos e as fantasias que deles advêm? Vou antes elucidar-vos acerca do que realmente sofremos nesta recta final.

Parece já longe o dia em que pus os pés na minha faculdade para ingressar finalmente no curso a que concorri e pelo qual estudei e me esforcei. Sete meses passaram e o meu primeiro ano está no seu fim. Quem me dera que assim não fosse...

A cada dia que passa, mais perto está a linha da meta. Tento vê-la, mas figuras enormes toldam os meus olhos, tudo está escuro, frio. Os fantasmas apoderam-se de mim, cansam o meu raciocínio, o meu corpo. Porquê? Depois de uma semana de festa – aqui sim, acertaram aquelas raparigas – por que nos assombram a ansiedade, a pressão, o cansaço? Alguém me diga quais as razões para estes três sacanas estarem a esgotar-me antes do final? É que, como se não bastasse, o bicho papão solta-se do armário em Junho para nos examinar a todos! É preciso treinar as nossas luzinhas interiores. Iluminemo-nos, que o tal bicho tem medo da luz. Se de luz nos equiparmos, o caminho ficará livre. Se um último esforço fizermos, aquele bicho volta para o armário até ser tempo de nevar. Se uma última batalha travarmos, conquistaremos o ano. Com coragem e honra devemos lutar, não com armas, mas com as nossas mãos, nossa inteligência.

Ah, a meta, já vejo. Sinto calor, uma brisa suave, um céu azul, um calor diferente. Estou livre, venci.

3 comentários:

Fábio André Silva disse...

Nota: Esta crónica foi escrita no início de Maio, daí falar em sete meses :)

Liliana Pinho disse...

Sabes o que é que eu te digo? Essa semana vale o trabalho do ano todo :')

Rute Azevedo disse...

Gosto tanto ! Muito bom , muito bom . Reflecte bem a nossa vida .. universitária ! Que tem muito de tudo e pouco de festas . (:

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