"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Isaltino foi preso!!! … afinal não

O autarca Isaltino Morais foi mesmo preso … por 24 horas. Por volta das 19h foi libertado onde esteve encarcerado (mesmo a tempo de saborear um bom jantar com o seu precioso advogado). Se ontem a notícia era a sua detenção, hoje é a velocidade com que se pôs de novo cá fora (eu cá pra mim quase que aposto que foi tão rápido porque ele não gostou da vestimenta).

Lembro-me de ouvir na RTP ontem alguém a dizer que o facto de Isaltino ter sido preso “é uma prova de que a Justiça funciona” … bem, a sua libertação hoje é uma prova de que a Justiça tem as pilhas fracas.

Este episódio (lamentável) traz-me à memória aquilo que aconteceu a Vale e Azevedo, só que de modo inverso: o primeiro esteve lá dentro e pouco depois saiu; o segundo saiu, respirou duas vezes ar puro e voltou lá para dentro (acho que ainda não tinha pago a factura da Sport TV).

Uma coisa é certa e inquestionável: o advogado do Isaltino Morais é exímio no que toca a recursos a sentenças. O homem arranjou logo maneira de pôr o seu cliente cá fora trazendo as notificações necessárias. Este é o tipo de pessoa que toda a gente gostaria de ter ao lado… quando se sentasse no banco dos reús (depois disto até deve ter cláusula de rescisão).

O arguido (que já andava “as turras” com a justiça há anos) mal foi preso acusou logo o tribunal de ter errado, tal como um defesa que pegou a bola com a mão culpa o árbitro por ter visto o lance. No entanto, mal saiu cantou uma música diferente: “a minha dignidade foi enxovalhada nestas últimas 24h mas no final de tudo ainda acredito na justiça” … afinal perdoa o árbitro porque o penalti foi por cima.

Para terminar enalteço (sim, porque me está a apetecer enaltecer coisas) dois factores:
- O taxista familiar do Sr. Isaltino Morais deve ser o único no país com a sua profissão que tem uma conta na Suíça;
- Se passou pela prisão e mesmo assim a única coisa ‘violada’ no processo foi a sua dignidade, já vai com sorte não acha?

domingo, 18 de setembro de 2011

Stôr, deixe lá, tenta pró ano…

Retirar um mau professor da sala de aula vai demorar mais tempo. O dobro do tempo, para sermos exactos. Uma das diferenças entre este e o próximo modelo de avaliação é a benesse que se dá a um docente avaliado com insuficiente, que vai poder permanecer mais tempo a ensinar.” By: jornal ‘I’

É para vocês terem uma noção como Portugal é evoluído. Agora quando se entra numa sala de aula não é só o aluno que está na calha de reprovar e ser enxovalhado no ano seguinte … para estarmos na vanguarda pomos os professores (maus) a fazer o mesmo, porque assim é que é justo … se é para ser mau no que se faz, há que repetir para se ter a certeza!

Sinceramente com todo este corrupio no que toca a cortes, impostos e medidas que a Troika se lembra que o nosso país precisa, esta notícia já não me choca … se durante anos milhares de alunos passaram de ano sem perceber peta do que se falava nas aulas, reprovar um professor que não sabe o que faz parece-me que no nosso mundo é algo louvável … se ao menos houvesse uma maneira de contrabalançar as situações que referi, quase que aposto que o nosso ensino ia para a frente, mas acho que já estou a pedir demais …

“... um docente dos quadros que obtenha a nota mais baixa em duas avaliações consecutivas ou três intercaladas fica sujeito a um processo de averiguações instaurado no seu agrupamento ou escola, esperando o seu desfecho para saber qual a sentença.”

Sentença? Mas vamos enforcar alguém? ”Desculpe lá caro colega mas como Presidente da Escola não posso permitir que o senhor não saiba qual é o pretérito imperfeito do verbo ‘ir’, não se mexa que isto acaba depressa, tente não respirar por favor”. Parece que estou a ver o professor Américo ao encontrar a sua turma do ano transacto e ouvir bocas do género “então stôr, já sabe quem foi o 4º Rei de Portugal? Olhe que não vale ir ao livro senão chibo-me”, ou até “então professor? Que olheiras são essas? Pois vai pa night em vez de estudar o que tem de nos ensinar…”.

Não levem esta crónica como um descrédito no que toca aos professores, mas sim como um aviso do que pode vir a trazer às gerações vindouras de alunos no nosso país.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Reflexo

Em frente a um espelho está um homem. Imóvel e silencioso, olha para o objecto rectangular, preso a uma porta branca. Nas bordas estão traçadas simples linhas, os únicos adornos daquele pedaço de vidro, inútil e frio.

Desta vez, o espelho trazia um outro adereço em si: um outro homem, igualmente imóvel e silencioso. Já inúmeras vezes esse homem aparecera, mas nunca tão imóvel, nem tão silencioso. A cor da sua pele rivalizava com a da porta e os seus olhos estavam negros. Parecia estar num esforço tremendo, a debater-se numa luta feroz! Muitas lutas trazem dor, sofrimento, violência para com os outros; a deste ser não. Os combates travavam-se violentamente dentro da sua mente e do seu coração. 

Parecia perdido em pensamentos. Pensamentos recentes que pareciam antigos e situações arcaicas que se mostravam tão frescas.

O homem olhou então para as suas mãos. Sentia-as mais leves, desnudas. Faltava algo, ou talvez alguém... O coração estava tanto vazio como recheado de emoções. No seu pensamento, o racional perguntava constantemente "Porquê?" ao irracional, que teimava em não responder.

Cerrou o punho, como se pedisse mais uns minutos de controlo. Sabia que não aguentaria demasiado tempo, era muito para suportar.

Teve mais um relance de sanidade. Imaginou os bons momentos da sua vida e e soube que não merecia este estado lastimável de agora. Ainda assim, sabia que nada poderia fazer para o evitar mas que não poderia permanecer nesta luta interior.

Não aguentou mais... O som do seu punho a embater no espelho propagou-se... E o homem chorou...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Uma doença que dá jeito

“A norte-americana Lily Clarke, sofre de uma doença rara conhecida por Síndrome de Kleine-Levin, tendo já dormido durante os exames da universidade, o Natal e a passagem de ano. Mais recentemente, a rapariga conseguiu dormir durante o seu 18.º aniversário. Lily Clarke é uma verdadeira 'Bela Adormecida', mas apenas por dois meses de cada vez.”

Ora aqui está algo que nos livraria de grandes problemas. Não me venham com histórias ‘a e tal ela perdeu momentos importantes da vida dela’ … é pá não inventem. Uma doença deste género serviria de desculpa para as coisas mais chatas que nós não queremos ter de aturar.

Mas atenção, isto varia de opinião dependendo se és homem ou mulher. Se fores homem e tiveres esta doença, não és doente, és preguiçoso e muito provavelmente fizeste de propósito para falhares aquele jantar de família chato ou aquele aniversário do sobrinho que está sempre de trombas; se és mulher, tens logo uma doença grave, e coitadinha, com isto perdes momentos bonitos como os saldos na Zara, ou os saldos na Bershka, ou (é melhor ficar por aqui porque esta crónica não é paga por nenhuma marca) … enfim, a vida tem destas coisas.

Muito sinceramente ter esta doença eliminaria momentos que já passamos e que nos custa a lembrar. Por exemplo, alguém gosta de lembrar aquele natal que passou a frente de um embrunho bonito que parecia ter um videojogo (digamos, o FIFA 2002) e quando chega à meia noite ao abri-lo saí um pack de pijama e meias??? Claro que não, isso seria traumatizante para mim, quer dizer, para o miúdo que o recebeu … se tivesse dormido esse dia todo já não acontecia isto. Os dias de testes são outros, assim terias a melhor desculpa para os piores resultados: “Como é possível estes resultados?? O menino já sabia deste teste à meses, aposto que só estudou na véspera … não professora, eu é que estive a dormir estes 2 meses e por azar acordei no dia do teste” (NOTA: neste caso o aluno não é só doente, é estúpido mesmo, ao menos fazia um esforço e dormia mais um bocado …)

Para terminar apenas digo: o objectivo desta crónica NÃO é incentivar-vos a correr para os consultórios médicos a pedir atestados para usarem esta doença como desculpa para faltar ao trabalho ou às aulas … mas se o fizerem façam também um em meu nome. É que eu não vou a hospitais nem nada, é só gente doente …