"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Reflexo

Em frente a um espelho está um homem. Imóvel e silencioso, olha para o objecto rectangular, preso a uma porta branca. Nas bordas estão traçadas simples linhas, os únicos adornos daquele pedaço de vidro, inútil e frio.

Desta vez, o espelho trazia um outro adereço em si: um outro homem, igualmente imóvel e silencioso. Já inúmeras vezes esse homem aparecera, mas nunca tão imóvel, nem tão silencioso. A cor da sua pele rivalizava com a da porta e os seus olhos estavam negros. Parecia estar num esforço tremendo, a debater-se numa luta feroz! Muitas lutas trazem dor, sofrimento, violência para com os outros; a deste ser não. Os combates travavam-se violentamente dentro da sua mente e do seu coração. 

Parecia perdido em pensamentos. Pensamentos recentes que pareciam antigos e situações arcaicas que se mostravam tão frescas.

O homem olhou então para as suas mãos. Sentia-as mais leves, desnudas. Faltava algo, ou talvez alguém... O coração estava tanto vazio como recheado de emoções. No seu pensamento, o racional perguntava constantemente "Porquê?" ao irracional, que teimava em não responder.

Cerrou o punho, como se pedisse mais uns minutos de controlo. Sabia que não aguentaria demasiado tempo, era muito para suportar.

Teve mais um relance de sanidade. Imaginou os bons momentos da sua vida e e soube que não merecia este estado lastimável de agora. Ainda assim, sabia que nada poderia fazer para o evitar mas que não poderia permanecer nesta luta interior.

Não aguentou mais... O som do seu punho a embater no espelho propagou-se... E o homem chorou...

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