"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Força anímica



Para vos ser sincero (e visto que ainda estou no início da crónica tenho essa chance) eu sinto alguma falta de força anímica para escrever esta semana. Já falei com o meu “eu“ interior à umas semanas e chegamos a um acordo que deveria mesmo assim continuar e tentar falar sobre a fase política em que vivemos.
A porta que Miguel Relvas abriu quando saiu do Governo parece-me perigosa. Não me levem a mal, eu gosto do tipo de discurso como “eu fiz coisas espectaculares e de topo por Portugal, mas agora falta-me a força para continuar”, fica no ouvido e é de sair à rua com o ego em alta ... se nós não soubéssemos a história. 


Creio que depois desse dia presidentes de bancos ou até ministros já têm a rampa preparada para uma saída vistosa. Vítor Gaspar poderá facilmente abandonar o seu cargo acusando falta de força anímica nas olheiras como Portas pode desse modo referir que animicamente está exausto com tantas maneiras de tentar encobrir o fiasco que foram os submarinos ... há toda uma panóplia de ideias que graças a Relvas é lançada à classe política como uma bóia.

No entanto Cavaco Silva jamais poderá utilizar esta possibilidade, porque isso requer que o Presidente da República tenha de falar sobre assuntos, coisa que ele não está habituado a fazer ... a falar diga-se. Portanto nunca saberemos se Cavaco tem tão pouca força anímica que nem falar consegue: para uns uma tristeza, para outros é só Cavaco Silva.

Confesso que isto de ter ou não força anímica para continuar me faz alguma comichão na parte superior da nunca ... será que é uma coisa que se sente ao acordar (“olha são 10 da manhã e ainda tenho que fazer várias tarefas, mas falta-me algo ... deve ser força anímica, é melhor parar”)? É que se for assim eu padeço dessa condição à muitos anos e mesmo assim lá continuo ... a dormir até as 10 horas como um bom português que tem orgulho no seu sono.

A mensagem desta maravilhosa crónica é que não ter força anímica está na moda e assim o nosso país avança, quer dizer, não literalmente, mas ao que parece temos o poder de cansar ministros até eles se demitirem ...

Antes de ir, algo que foi do meu agrado no que toca a Passos Coelho:
Devo enaltecer que o Governo esteve soberbo na substituição de Miguel Relvas porque as duas pessoas que vão partilhar o cargo (Poiares Maduro e Marques Guedes) são sem sombra de dúvida licenciadas e de forma “normal” ... perde-se no showbiz, mas ganha-se nos estudos o que é sempre bonito.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Liberdades de expressão



      Atualmente, a sociedade joga para fora do campo o que de melhor possui, abraçando, simultaneamente, medos e desassossegos, silêncios e amarguras. A sociedade de hoje opta por repugnar o bem que lhe foi concedido: a liberdade de expressão.
     Não consigo, portanto, entender como é que este grupo de indivíduos “humanizados”, que se dizem tão cultos, tão justos e que sustentam – à primeira vista – uma figura credível, consegue desperdiçar um direito tão intrínseco como este. O de se exprimir livremente. Não querendo contrariar o que nos diz Fernando Nobre, “Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos, porque ao não reagirmos somos cúmplices dos mesmos”, creio que as próprias consciências destes indivíduos se têm deixado degradar pela força erosiva de outros “bens” a troco de nada. Sim, nada. Nada porque é o silêncio de uma sociedade inteira que paga esses bens materiais. O «fazer de conta que não vi, não ouvi, não sei» permite, desta forma, que perante milhares de crianças que trabalham dia e noite ou perante populações inteiras que vêem a sua cidade profusamente poluída – não tendo como respirar ar puro por uns meros segundos – nenhuma resposta seja dada. Por outro lado, não querendo ser culpabilizadas, as vozes dos mais progressistas soam, quase que de imediato, pelas ruas alegando que essas são problemáticas da responsabilidade de outras instituições. Que tais resoluções lhes são transcendentes e que eles, sim, dão uso à liberdade de expressão quando, e passo a citar, “perante acontecimentos trágicos”, se indignam contra governos e presidentes. Perdoem-me a rebeldia mas eu discordo por completo.
     Assim sendo, eu vejo a liberdade de expressão como algo que pode, realmente, fazer a diferença, algo que pode não só mudar o mundo, mas também fazê-lo pular de avanço em avanço, sempre numa direção mais solidária e igualitária. E não apenas como uma desculpa para que se venha para a rua fazer barulho e causar distúrbios com a finalidade ridícula de fazer notar o quão cultos e morais nós somos. A liberdade de expressão é muito mais do que isso. Chegou a vez que a pormos a falar com nós mesmos.

Rute Rita Maia,
9 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Comunicado Oficial


"Nas últimas semanas, o blogue “Crónicas em Branco” tem estado sob análise. As grandes pressões a que o site tem sido submetido levaram, após grande deliberação, à decisão de encerrar o “Crónicas” e à posterior eliminação de todos os conteúdos.



Segundo o conteúdo das críticas de que o blogue tem sido alvo, a equipa é acusada de plágio de informação encontrada em jornais nacionais e ataque constante a figuras conhecidas do quotidiano português, bem como a intromissão em assuntos delicados da atualidade. Também outros espaços de escrita online têm enviado a sua opinião negativa quanto ao “Crónicas em Branco”.



Apesar da incerteza sobre uma tomada de posição concreta dos órgãos visados, toda a equipa do “Crónicas” vai remeter-se, por enquanto, ao silêncio.


O blogue, que já conta com 2 anos de existência, vê-se agora (ao que tudo indica) perto de um encerramento, colocando um ponto final no espaço onde os seis cronistas depositavam apenas sua opinião."



Fim do Silêncio? 

No entanto, mesmo calados, estamos atentos.


Percebemos as reações e acima de tudo compreendemos os medos. Depois de dois anos a escrever livremente percebemos que afinal de contas essa liberdade é simplesmente controlada e não totalmente livre.

Com o passar do tempo, à medida que escrevíamos no “Crónicas” reparamos no crescimento de algum desconforto. Com estas acusações, o mais certo é estarem a conduzir-nos para o fim.

Lutamos com as nossas armas, mas uma força maior obriga-nos a pôr termo àquilo que foi para toda a equipa um desafio, um prazer e um orgulho a sustentar. Entre nós os seis existe talento, frontalidade e originalidade – factos que levaram a que muitos nos temessem.

Gostávamos de dizer que vamos apenas “encostar a porta”, mas teremos mesmo de a fechar para que as represálias não se tornem mais complicadas.

Por fim, a todos agradecemos o apoio desde o dia em que este projeto começou. Talvez num outro sítio, numa outra hora, estejamos juntos novamente.

Obrigado,
Crónicas em Branco