"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

terça-feira, 9 de abril de 2013

Liberdades de expressão



      Atualmente, a sociedade joga para fora do campo o que de melhor possui, abraçando, simultaneamente, medos e desassossegos, silêncios e amarguras. A sociedade de hoje opta por repugnar o bem que lhe foi concedido: a liberdade de expressão.
     Não consigo, portanto, entender como é que este grupo de indivíduos “humanizados”, que se dizem tão cultos, tão justos e que sustentam – à primeira vista – uma figura credível, consegue desperdiçar um direito tão intrínseco como este. O de se exprimir livremente. Não querendo contrariar o que nos diz Fernando Nobre, “Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos, porque ao não reagirmos somos cúmplices dos mesmos”, creio que as próprias consciências destes indivíduos se têm deixado degradar pela força erosiva de outros “bens” a troco de nada. Sim, nada. Nada porque é o silêncio de uma sociedade inteira que paga esses bens materiais. O «fazer de conta que não vi, não ouvi, não sei» permite, desta forma, que perante milhares de crianças que trabalham dia e noite ou perante populações inteiras que vêem a sua cidade profusamente poluída – não tendo como respirar ar puro por uns meros segundos – nenhuma resposta seja dada. Por outro lado, não querendo ser culpabilizadas, as vozes dos mais progressistas soam, quase que de imediato, pelas ruas alegando que essas são problemáticas da responsabilidade de outras instituições. Que tais resoluções lhes são transcendentes e que eles, sim, dão uso à liberdade de expressão quando, e passo a citar, “perante acontecimentos trágicos”, se indignam contra governos e presidentes. Perdoem-me a rebeldia mas eu discordo por completo.
     Assim sendo, eu vejo a liberdade de expressão como algo que pode, realmente, fazer a diferença, algo que pode não só mudar o mundo, mas também fazê-lo pular de avanço em avanço, sempre numa direção mais solidária e igualitária. E não apenas como uma desculpa para que se venha para a rua fazer barulho e causar distúrbios com a finalidade ridícula de fazer notar o quão cultos e morais nós somos. A liberdade de expressão é muito mais do que isso. Chegou a vez que a pormos a falar com nós mesmos.

Rute Rita Maia,
9 de abril de 2013

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