A pior parte de se ser sincero é que, mais tarde, não nos restarão palavras
para saborear. É uma contradição, me parece. Quando se diz tudo, fica-se com
nada. Esse nada é triste. É vazio. Por te ter dito tudo e ter posto as cartas
na mesa, agora encontro-me nua, sem mais nada a dizer, sem palavras para
guardar. Perdi o que tinha. E eu tinha um manto delas apenas para ti.
Olho-te e sinto-me capaz de buscar o melhor que há em ti. De te trazer
para as luzes da ribalta e mostrar ao mundo o outro eu que tens escondido nas
tuas entranhas. Olho-te e sinto que consegues trazer o pior que há em mim. E
sinto que, se assim fosse, saímos os dois a ganhar. A vida é efémera. Tão efémera
que essa tua arrogância desmedida passa-me ao lado, sem o mínimo esforço da
minha parte para que tal aconteça. Sempre quis ver mais longe. Talvez seja isso
o que está aqui em causa. Testar a tua reacção. Ler um pouco mais de ti. Quando
algo me é dado de bandeja e de uma só vez eu perco a vontade de aceitar. Não
posso considerar meu algo que não fui eu quem encontrou ou descobriu. E ainda
tenho tanto por (te) descobrir... Pouco me importa as rotas que cruzamos até
pisarmos este chão. Em vez disso, foco-me naquela que sempre foi a minha
prioridade: o que cada um de nós procura. E eu penso que procuramos o mesmo. Se,
para isso, trarei ao de cima o melhor que há em ti e descobrirei, por teu
próprio mérito, o pior que há em mim, que assim seja. Depois logo se vê o que o
destino tem guardado para nós. Se é que tem alguma coisa. A vida é efémera. Tão
efémera que fazer planos é o mais puro desperdício de tempo.
Por isso, vem. Perde o juízo e vem. Vem fazer algo pela tua vida e sai
dessa sina rotineira em que te enfiaste. Vem saborear o factor surpresa a cada
nascer do sol e nunca regressar a casa pelo mesmo caminho. Porque essa vida
livre que dizes viver é apenas uma mentira na qual fazes sempre mais do mesmo.
Sem nunca fazer nada diferente.
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