Desde os tempos mais remotos da minha adolescência que
ouço dizer que o sexo masculino tem medo de mulheres independentes. É como que
elas desafiassem a autoestima deles; pois lhes é difícil admitir que exista
neste mundo alguma mulher capaz de viver tão ou mais feliz sem eles do que na
sua companhia. Então, desde esses mesmos tempos que prometi a mim mesma ser uma
dessas mulheres. Invejo com admiração as que não se deixam levar pelos cânticos
mais ousados. As que não seguem estereótipos e permanecem fiéis a si mesmas e
aos seus desejos. As que não se vê nelas uma pinta de solidão ou falta de alguma
coisa. As que pisam o chão firme com mais firmeza ainda. Que se destacam no
meio de uma multidão pelo que fazem e por o que são.
Prometi a mim mesma ser capaz de construir relações
que não só preenchessem todos os campos da minha afetividade (tão ou mais
exigente do que a de uma mulher casada), mas também, que me ensinassem a cuidar
de mim, só de mim, sem me preocupar com as satisfações que me viessem pedir. Ficar
sozinha não me assusta, se eu souber aquilo que me faz feliz. Que me vai fazer
sentir especial, em vez de uma sobra. É, sem dúvida, o caminho mais fácil,
aquele de se viver sozinho, planear as tardes de Domingo ao seu agrado, o de
sair com quem e onde quiser. Mas todo esse mundo pode ser também enganador, de
uma felicidade aparente e um fascínio que se vem a revelar falso. Há que, por
isso, tomar em atenção todos os aspetos que nos alertem para um distanciamento
dos nossos, para a construção de um mundo demasiadamente próprio, isolado e só.
Há que, apesar de tudo, cuidar com afeto dos que mais nos são queridos, e
nunca voltar a casa sem que eles saibam o quão gostamos deles. Sim, eu sou independente.
Sim, eu sou senhora do meu nariz. Mas não me esqueço de pais, amigos e familiares
quando trago uma boa notícia ou quando o sol está tão bonito que me apetece ir
mergulhar. Pois o que muitas vezes acontece àqueles que tanto anseiam estar
sozinhos, é a solidão bater-lhes à porta e passar a fazer-lhes companhia.
Não me revejo em mais de metade dos textos românticos
que já li. Das paixões contadas nas ruas. Ou, nesta nova geração, nas redes
sociais. Não espero encontrar numa só pessoa tudo o que preciso para uma vida
inteira. Vida essa que eu sei que irá mudar comigo. Mas, se por ocasião do
destino ou até decisão dos Deuses, esse alguém tropeçar em mim na calçada e me
provar ser merecedor de tal, eu sei que lhe darei o meu mundo completo. Tal e
qual como ele é. Cheio das minhas inseguranças, dos meus sonhos, das minhas
memórias e das minhas vitórias. Dos meus medos e derrotas. E farei questão, de
todas as noites, deixar o leito cair em silêncio, olhar o corpo deitado a meu
lado e contar, dos meus olhos para os seus, o quão dele eu gosto.
A noite é solitária. Mas eu não.
2 comentários:
"E farei questão, de todas as noites, deixar o leito cair em silêncio, olhar o corpo deitado a meu lado e contar, dos meus olhos para os seus, o quão dele eu gosto."
Muito bom :)
Reflexão clara mas envolvente. Gostei e identifiquei-me com muito do que escreves-te :D
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