A Política em Portugal apresenta, nos seus tempos mais modernos,
uma peculiaridade face a outros países, por exemplo da Europa, que representa um
fator determinante para o estado em que se encontra o país. Os políticos
portugueses são formados em tudo, menos em Política. Ora são engenheiros,
arquitetos, advogados ou doutores, mas a sua formação em Política? Nem vê-la!
Desenvolver capacidades como a retórica, a interpretação dos mais
diversos problemas sociais, etc.., parecem-me questões preponderantes para quem
considera chegar ao poder e fazê-lo com a devida competência e eficiência. Pensar no
impacto das Relações Internacionais e revisitar as experiências da História e
das teorias políticas mais antigas são qualidades, de igual modo, prioritárias
para quem nos vai governar. Essa ideia de que um bom político é aquele
indivíduo popular lembra-me o tempo em que nos queríamos livrar das
políticas e ideias de Salazar e repetimos o erro de acreditar que um salvador
da pátria (neste caso, Humberto Delgado) nos viria trazer a boa nova e com ela
a boa vida; pois, desde o desaparecimento prematuro de D.Sebastião, o povo
acredita que um ser com capacidades extraordinárias nos virá tirar das
infortunas e conjunturas económicas de mau-carácter em que vivemos mergulhados,
criando até, de antemão, uma certa simpatia e afeição por tal ser iluminado sem
rosto conhecido. Pena que já lá vão séculos de distância. No entanto, mais do
que nunca, os tempos de hoje exigem que o eleitorado comece a tomar as suas
decisões com base na formação do indivíduo (pressupondo que esta lhe confere
qualidades governativas que poderão beneficiar o país, e não tanto baseando-se
em aparições mais ou menos escandalosas em público ou nos detalhes da sua vida
pessoal). Mais do que nunca, o político deve ser o exemplo maior de formação
profissional do país (pois se é para discutir assuntos do interesse público,
então que saiba do que está a falar...). Não há que ter medo da
profissionalização da Política, desde que esta tenha todas as cartas em cima da
mesa e não haja nenhum truque na manga.
Permitam-me que vos dê o exemplo do tão contestado Vítor Gaspar
que, como sabemos, acabou por abandonar as suas funções antes do tempo. Que o Sr.
tenha sido um génio do seu tempo e que ocupara cargos privilegiados, cobiçados
por muitos, por mérito próprio, não temos dúvida. Mas a partir do momento em que
um economista quer trabalhar diretamente com a classe política, ele próprio
deve adquirir formação para tal. Por muito excelentes que as suas fórmulas
fossem e por muito bem que resultassem no papel, Gaspar esqueceu-se que na
prática as pessoas adoecem, engravidam, falecem, e que por isso a capacidade de ajustar as suas resoluções no imediato, de forma a dar resposta aos problemas/necessidades da
população, deve ser algo quase inato num político. Talvez assim se percebam as
falhas destes últimos anos.
Talvez por ser estudante de Ciência Política, eu acredito na
formação desta classe profissional e na profissionalização desta área, que é uma
ciência como tantas outras. Talvez, digo eu.
Rute Rita Maia
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