"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Políticos de profissão


A Política em Portugal apresenta, nos seus tempos mais modernos, uma peculiaridade face a outros países, por exemplo da Europa, que representa um fator determinante para o estado em que se encontra o país. Os políticos portugueses são formados em tudo, menos em Política. Ora são engenheiros, arquitetos, advogados ou doutores, mas a sua formação em Política? Nem vê-la!
Desenvolver capacidades como a retórica, a interpretação dos mais diversos problemas sociais, etc.., parecem-me questões preponderantes para quem considera chegar ao poder e fazê-lo com a devida competência e eficiência. Pensar no impacto das Relações Internacionais e revisitar as experiências da História e das teorias políticas mais antigas são qualidades, de igual modo, prioritárias para quem nos vai governar. Essa ideia de que um bom político é aquele indivíduo popular lembra-me o tempo em que nos queríamos livrar das políticas e ideias de Salazar e repetimos o erro de acreditar que um salvador da pátria (neste caso, Humberto Delgado) nos viria trazer a boa nova e com ela a boa vida; pois, desde o desaparecimento prematuro de D.Sebastião, o povo acredita que um ser com capacidades extraordinárias nos virá tirar das infortunas e conjunturas económicas de mau-carácter em que vivemos mergulhados, criando até, de antemão, uma certa simpatia e afeição por tal ser iluminado sem rosto conhecido. Pena que já lá vão séculos de distância. No entanto, mais do que nunca, os tempos de hoje exigem que o eleitorado comece a tomar as suas decisões com base na formação do indivíduo (pressupondo que esta lhe confere qualidades governativas que poderão beneficiar o país, e não tanto baseando-se em aparições mais ou menos escandalosas em público ou nos detalhes da sua vida pessoal). Mais do que nunca, o político deve ser o exemplo maior de formação profissional do país (pois se é para discutir assuntos do interesse público, então que saiba do que está a falar...). Não há que ter medo da profissionalização da Política, desde que esta tenha todas as cartas em cima da mesa e não haja nenhum truque na manga.
Permitam-me que vos dê o exemplo do tão contestado Vítor Gaspar que, como sabemos, acabou por abandonar as suas funções antes do tempo. Que o Sr. tenha sido um génio do seu tempo e que ocupara cargos privilegiados, cobiçados por muitos, por mérito próprio, não temos dúvida. Mas a partir do momento em que um economista quer trabalhar diretamente com a classe política, ele próprio deve adquirir formação para tal. Por muito excelentes que as suas fórmulas fossem e por muito bem que resultassem no papel, Gaspar esqueceu-se que na prática as pessoas adoecem, engravidam, falecem, e que por isso a capacidade de ajustar as suas resoluções no imediato, de forma a dar resposta aos problemas/necessidades da população, deve ser algo quase inato num político. Talvez assim se percebam as falhas destes últimos anos.
Talvez por ser estudante de Ciência Política, eu acredito na formação desta classe profissional e na profissionalização desta área, que é uma ciência como tantas outras. Talvez, digo eu.
 
 
Rute Rita Maia
 

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