"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Face Oculta à Zé do Pipo


Alheiras, robalos, pão-de-ló (e se for cliente habitual tem direito a escutas e a um Mercedes de 20 mil euros) … esta é a ementa de quem se senta no “Restaurante Face Oculta”.

Aqui não há pedidos esquisitos: lavagem de dinheiro, influência de interesses, jogos de poder, pressões, chantagens ou pagamentos ‘debaixo da mesa’ … tudo é servido com toda a tranquilidade pelos gerentes Armando Vara, Manuel Godinho e a família Penedos (pai e filho) que sempre entrarão no tribunal, perdão, na sala de jantar com um sorriso nos lábios e um “estou inocente”, “a minha presença aqui é desnecessária visto que não há provas” e “o meu filho está inocente” (esta ultima percebe-se … alguém tem de continuar a tradição da família”).

Mas se é apreciador de espectáculos com gente mais conhecida, visite-os quando nos noticiários se falar das escutas de José Sócrates, sim o “Mister Magalhães” também dá uma perninha neste show de variedades. Relembre os mandatos deste senhor ao som do grande hit “Porreiro pá” e enquanto procura o dinheiro que estava no seu bolso, mas agora já não está lá.

Se por acaso ficou avassalado com a comida, polémica, dinheiro desviado e a sobremesa, não se preocupe se não estiver em condições de voltar a casa. Estes senhores fazem questão de referir que tiveram à sua disposição um carro de alta cilindrada (mas apenas por empréstimo) que lhe pode bem facultar um regresso fugaz e relaxado a casa … ou a ida directa para a prisão. Como vê táxi são coisas do passado, aproveite (mas não risque a viatura).

Como vê, nada melhor do que este lugar que a Justiça Portuguesa tem o prazer de patrocinar para passar os seus serões. Apareça, escolha o seu lugar e aprecie a comida … ah e se por acaso achar que a conta é um abuso, bem, é o Portugal que temos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Português XXI


Solta-se em mim um grito silencioso por querer sair deste país egoísta, desigual e comodista. Não cómodo como o regaço da nossa avó, que nos acariciava o cabelo enquanto dizia que viríamos a crescer, a ser bons homens. Cresci, mas não me sinto bem nesta realidade. O meu futuro está incerto perante tal negrume na minha terra natal e comodidade é algo que nela desconheço.

Não consigo ser um bom homem face à desonestidade entranhada nos portugueses: um povo, outrora de grandes conquistas, que se virou para o facilitismo e para a desonestidade. A versão XXI do português é, na sua essência, um murro no estômago de todos aqueles que lutaram pelo mínimo de respeito e igualdade.

O dinheiro corrompe-nos as veias, torna-nos maus. Por ele, os governantes viraram vilões. Não resistiram ao brilho das moedas, ao cheiro das notas; quiseram evitar que se perdesse nas mãos do Zé – aquele sujeito bêbedo e ignorante. Guardaram-no, seguro, nos seus bolsos. Foram-no amealhando, e o povo anuiu, embrulhado na comodidade da esmola que eles lhe davam, mesmo desconfiando do que guardavam os líderes nos seus bolsos. Isto, porque o português sempre foi esperto e procura trabalhar o menos possível. Enquanto recebia, tudo corria bem. Hoje, em plena crise, o português não procura lutar contra a maré, espera que alguém o faça por si. O português quer melhorar a vida, mas não quer trabalhar mais por isso. O português não joga em equipa; prefere atirar a toalha ao chão e pedir esmola.

Se foi para isto que eu cresci, desilude-me que seja para ver os portugueses cavar a sua própria sepultura.

Take a Look Around

Será normal, será especial, será anomalia...
Não sei, mas parece que quando o dia acaba e o corpo pára, começa a cabeça a funcionar...
Não aquela que pensa e raciocina ao longo do dia, mas sim aquela que recorda tudo o que fizemos...
Chamam-lhe memória...
A minha funciona à noite, funciona no escuro, funciona quando tudo o resto já se apagou...
Quando o dia acaba, vem como um sumário escrito pelo aluno, ansioso por sair da aula, mas ainda com aquele detalhe estúpido de anotar resumidamente o que andou a fazer...
Quando esse momento chega, paro e reflicto, penso e repenso no que fiz e em tudo o que poderia ter feito se na altura tivesse tido a mesma tranquilidade e tempo que tenho agora...
Normalmente chego à conclusão que poderia ter feito melhor, respondido melhor, agido mais correctamente (mas muitas vezes arrependo-me de ter agido tão correctamente, ás vezes uma reacção mais animal também é bem aplicada)...
Hoje o dia chegou ao fim, valeu a pena, mais um dia que passou, qual foi o sumário de hoje?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Caros Senhores do poder,

            Quando somos crianças, no infantário, ensinam-nos a não sermos egoístas… creio que a vós também lhes tivessem ensinado algo semelhante. É por isso que não compreendo os vossos actos.
            Como é que é possível existir tanto apego a pedacinhos rectangulares de papel cuja textura está mais do que contaminada? Porque insistais vós em falar ao vosso povo de uns mostrengos horrendos denominados “mercados”, e não lhes explicais que esses “mercados” são apenas homens que idolatram esse papel? Pouco lhes importa se as nações passam fome, se populações morrem sem cuidados médicos, ou se a geração seguinte terá sequer condições ambientais para existir. Contudo, acho que eles se esquecem que sem nós, eles próprios não subsistirão. O comércio terá fim, a indústria idem aspas, e o ambiente estará, entretanto, tão danificado que nem a agricultura nos poderá dar auxílio. E depois? Que lhes adianta os cofres cheios? Esperem lá, já me lembro do nome que dão: é dinheiro. É isso que irão comer? Está mais do que visto que o sistema em que hoje vivemos (capitalismo, para quem não sabe o nome) não serve. Nós, jovens, que ocuparemos os vossos lugares, nós que somos os vossos filhos, sobrinhos (…) propomos que comecem a dar prioridade ao conhecimento e à Natureza. Deixem de procurar em cada esquina uma oportunidade de negócio. Ao povo, parem de lhes dar aquilo a que a civilização romana chamava de “pão e circo”, que actualmente é mais “Rendimento mínimo e Casa dos Segredos”, para os distraírem e, assim, se protegerem de eventuais revoluções. Mostrem que a educação é de que se faz o ser humano. Sejam criativos. Sejam inteligentes. Sejam utópicos e façam de todo para tornar real.
            Nós, portugueses, gostamos de tratar o Estado como o culpado por tudo e mais alguma coisa, pois esquecemo-nos que nós somos o Estado. Isto porque, nós, portugueses, estamos constantemente à espera que alguém venha resolver os nossos problemas. Acabando assim por colocar em cima de outrem responsabilidades que somente a nós nos pertencem, mas que feria o nosso ego não as saber valer. Creio que nos custa a entender que a Humanidade existe por e para todos nós; não tentem fugir daquilo que fazem parte. É estúpido. Levantem-se dessas secretárias tão bem polidas e envernizadas. Ponham a mão na terra e ganhem-lhe amor. Vós precisais de todo o mundo. E o mundo precisa de vós. As pessoas deverão, também, continuar a ser o mais importante. Para que tudo funcione. Vós governantes e nós jovens temos o maior poder do Homem: o conhecimento. Vamos dar-lhe utilidade.
            No infantário ensinam-nos a não sermos gananciosos e a ajudar o próximo, não é? Então, deixem de pensar no ursinho do bebé do Sarkozy. Estão lembrados de que há países, fechados para si mesmos, que pela calada continuam a desenvolver-se e que já reúnem capacidade para destruir este mundo através de bombas? E não estou a falar de jogos de Playstation. É bom que continuem a procurar vida em Marte, caso contrário, não sei como nos safarmos. Estão lembrados de que já fomos a maior potência mundial? Antes de começarmos a delirar com o ouro do Brasil…
            Perdoem-me a objectividade, mas eu apenas estou a lutar pelo meu futuro. Porque eu também mereço um. E mereço, de igual modo, que cuidem dele enquanto eu cresço. E quando falo de mim, falo dos jovens cujo nome conheceis, cujo nome não conheceis, falo por todos! Parem de tratar cada fronteira como se fosse a vossa sétima vida. Parem de julgar que serão eternos e vosso poder jamais será posto em causa. Façam por conseguir cada vez mais e melhor. Por vós. Por nós. Pelos que ainda virão. E até pelos vossos antepassados que tanto lutaram para que vós tivésseis o que têm no presente e que, neste momento, devem estar às voltas nos túmulos a ver tanto erro cometido novamente. Parem de achar que o mundo é vosso e que o conseguem amarrotar e usar de novo (…). Ou então eu terei medo de respirar. Parem de comprar e deitar fora, sem que vos afecte saber que a cada gesto desses tiram vidas animais. Partilhem; aceitem que a maior parte de vós possui mais riqueza do que a suficiente, e que nós, deste lado, lutamos arduamente por uma pequena parte do que vocês têm. Recordem-se, por exemplo, que em 2010, Barcelona ficou, nos meses de Verão, sem água potável, tendo de comprar ao estrangeiro. Água potável. Não acontece só aos outros! Prestem atenção a mais isto: não temos todo o tempo do mundo! Mudem as vossas atitudes a partir deste segundo.
            E é assim que concluo, porque no infantário me ensinaram a não brigar, a ser prudente, ensinaram-me que os gestos valem mais do que promessas, ensinaram-me a assumir os meus erros e, principalmente, a corrigi-los. E quero acreditar que vos ensinaram o mesmo. Que vós sois capazes de mudar as vossas prioridades e colocarem a Humanidade em primeiro lugar. Quero acreditar que todas as vezes, antes de saírem de vossas casas, se olham ao espelho ou quando dizem aos vossos familiares que estão a fazer o melhor que sabem, ora, eu quero acreditar que realmente o fazem!

Obrigada.
Rute Rita

domingo, 13 de novembro de 2011

Quando o passado olha o presente...

"Quem não recorda o passado está condenado a repeti-lo."
Fonte A Vida da Razão
Autor - Santayana , Jorge


Qual a importância do passado?
Qual a necessidade do passado?
Qual é o nosso passado?


3 Perguntas, muitas respostas, respostas pessoais e nunca imparciais. Quem se orgulha exclusivamente do passado e não tem um "presente" para contar, com certeza responderia de forma entusiástica, referindo que o passado é parte integrante do presente, o passado é o que originou o que somos. Por outro lado, quem se esforça para que os seus erros sejam esquecidos, quem tenta um novo começo, irá provavelmente desvalorizar tudo o que passou, irá dizer que são águas passadas e o tempo não volta atrás e que o que interessa é o que são agora. Quem está errado? -Ninguém! Cada caso é um caso e ambos poderiam estar correctos.

Aonde quero chegar é que independentemente das opiniões, todos olhamos para o passado, reflectimos sobre ele, reflectimos sobre as nossas escolhas. Mas e quando o contrário acontece? Quando o passado olha para o presente, aquela ex-namorada que olha para o que o seu antigo "amor" se tornou, aquele amigo com quem perdemos contacto e após anos nos encontra, aquele antigo professor que sempre nos chamou à atenção para o nosso futuro e agora pode observar no que isso resultou... Nessas situações, pode-se sempre corresponder de forma positiva ou negativa, a opinião não será consensual, agradar a gregos e troianos nunca foi possível, resta-nos a nós esforçar para transmitir o que de mais positivo temos... Ou quando não o temos mas queremos "sair a ganhar", partir para a representação. Eu escolho o caminho da transmissão.

sábado, 12 de novembro de 2011

Quando a Europa se viu grega …


“Ufa já passou, mas valeu pelo susto” … era este o sentimento dos líderes europeus (e de Durão Barroso) quando souberam do passo atrás do governo grego no que toca ao referendo. Sim, a Grécia queria pôr nas mãos dos seus contribuintes a escolha de aceitar ou não a ajuda europeia, o que levou a que o ‘velho continente’ tenha sido visto com descrédito. Graças a George Papandreou (agora ex-primeiro ministro grego) e a versão deles do Fernando Mendes que é o ministro das Finanças (Evangelos Venizelos) pôs-se a hipótese dos gregos saírem da UE, coisa que assustou os portugueses, porque sejamos francos, a gente podia ser a seguir na linha …

Os gregos são esquisitos: depois de ter ganho o Euro 2004 (que só por isso já mereciam estar na miséria) agora ameaçavam abandonar o barco quando estamos no meio da tempestade e a água até está fria para um banho …
Outra coisa que eu não entendo é a casmurrice deles, quer dizer, quando até estavam dispostos a reduzir-lhes a dívida em 50 % amuaram e queriam sair. Faz lembrar aquele miúdo a quem a gente não dá o chocolate à primeira e quando volta a tentar, ele faz pirraça e ameaça fazer algo estúpido.

Da Alemanha o aviso é claro para esta nova fase da Grécia: ou aplica as reformas económicas ou abandona a moeda única. Para grego entender é como se Zeus se zangasse por terem posto a lavar a nuvem preferida dele e agora acabaram-se as dádivas … esta ideia de fazer o referendo parece-me uma tentativa desesperada para fazer algo que prejudicasse os seus contemporâneos (lembrei-me logo que isto podia afectar Portugal por razões óbvias …).

Para terminar um ponto que não podia deixar de destacar: a saída de Sílvio Berlusconi.
A Itália perdeu um mulherengo, um homem frontal e sem papas na língua, alguém que tem olho para os escândalos e que (de vez em quando) também era primeiro-ministro. 
Arriverderci amico mio.