Quando
somos crianças, no infantário, ensinam-nos a não sermos egoístas… creio que a
vós também lhes tivessem ensinado algo semelhante. É por isso que não
compreendo os vossos actos.
Como
é que é possível existir tanto apego a pedacinhos rectangulares de papel cuja textura
está mais do que contaminada? Porque insistais vós em falar ao vosso povo de
uns mostrengos horrendos denominados “mercados”, e não lhes explicais que esses
“mercados” são apenas homens que idolatram esse papel? Pouco lhes importa se as
nações passam fome, se populações morrem sem cuidados médicos, ou se a geração
seguinte terá sequer condições ambientais para existir. Contudo, acho que eles
se esquecem que sem nós, eles próprios não subsistirão. O comércio terá fim, a
indústria idem aspas, e o ambiente estará, entretanto, tão danificado que nem a
agricultura nos poderá dar auxílio. E depois? Que lhes adianta os cofres
cheios? Esperem lá, já me lembro do nome que dão: é dinheiro. É isso que irão
comer? Está mais do que visto que o sistema em que hoje vivemos (capitalismo,
para quem não sabe o nome) não serve. Nós, jovens, que ocuparemos os vossos lugares,
nós que somos os vossos filhos, sobrinhos (…) propomos que comecem a dar
prioridade ao conhecimento e à Natureza. Deixem de procurar em cada esquina uma
oportunidade de negócio. Ao povo, parem de lhes dar aquilo a que a civilização
romana chamava de “pão e circo”, que actualmente é mais “Rendimento mínimo e Casa dos Segredos”, para os distraírem e,
assim, se protegerem de eventuais revoluções. Mostrem que a educação é de que
se faz o ser humano. Sejam criativos. Sejam inteligentes. Sejam utópicos e
façam de todo para tornar real.
Nós,
portugueses, gostamos de tratar o Estado como o culpado por tudo e mais alguma
coisa, pois esquecemo-nos que nós somos o Estado. Isto porque, nós,
portugueses, estamos constantemente à espera que alguém venha resolver os nossos
problemas. Acabando assim por colocar em cima de outrem responsabilidades que
somente a nós nos pertencem, mas que feria o nosso ego não as saber valer.
Creio que nos custa a entender que a Humanidade existe por e para todos nós;
não tentem fugir daquilo que fazem parte. É estúpido. Levantem-se dessas secretárias
tão bem polidas e envernizadas. Ponham a mão na terra e ganhem-lhe amor. Vós
precisais de todo o mundo. E o mundo precisa de vós. As pessoas deverão,
também, continuar a ser o mais importante. Para que tudo funcione. Vós
governantes e nós jovens temos o maior poder do Homem: o conhecimento. Vamos
dar-lhe utilidade.
No
infantário ensinam-nos a não sermos gananciosos e a ajudar o próximo, não é?
Então, deixem de pensar no ursinho do bebé do Sarkozy. Estão lembrados de que
há países, fechados para si mesmos, que pela calada continuam a desenvolver-se
e que já reúnem capacidade para destruir este mundo através de bombas? E não
estou a falar de jogos de Playstation. É bom que continuem a procurar vida em
Marte, caso contrário, não sei como nos safarmos. Estão lembrados de que já
fomos a maior potência mundial? Antes de começarmos a delirar com o ouro do
Brasil…
Perdoem-me
a objectividade, mas eu apenas estou a lutar pelo meu futuro. Porque eu também
mereço um. E mereço, de igual modo, que cuidem dele enquanto eu cresço. E
quando falo de mim, falo dos jovens cujo nome conheceis, cujo nome não
conheceis, falo por todos! Parem de tratar cada fronteira como se fosse a vossa
sétima vida. Parem de julgar que serão eternos e vosso poder jamais será posto
em causa. Façam por conseguir cada vez mais e melhor. Por vós. Por nós. Pelos
que ainda virão. E até pelos vossos antepassados que tanto lutaram para que vós
tivésseis o que têm no presente e que, neste momento, devem estar às voltas nos
túmulos a ver tanto erro cometido novamente. Parem de achar que o mundo é vosso
e que o conseguem amarrotar e usar de novo (…). Ou então eu terei medo de
respirar. Parem de comprar e deitar fora, sem que vos afecte saber que a cada
gesto desses tiram vidas animais. Partilhem; aceitem que a maior parte de vós
possui mais riqueza do que a suficiente, e que nós, deste lado, lutamos
arduamente por uma pequena parte do que vocês têm. Recordem-se, por exemplo,
que em 2010, Barcelona ficou, nos meses de Verão, sem água potável, tendo de
comprar ao estrangeiro. Água potável. Não acontece só aos outros! Prestem
atenção a mais isto: não temos todo o tempo do mundo! Mudem as vossas atitudes
a partir deste segundo.
E
é assim que concluo, porque no infantário me ensinaram a não brigar, a ser
prudente, ensinaram-me que os gestos valem mais do que promessas, ensinaram-me a
assumir os meus erros e, principalmente, a corrigi-los. E quero acreditar que
vos ensinaram o mesmo. Que vós sois capazes de mudar as vossas prioridades e
colocarem a Humanidade em primeiro lugar. Quero acreditar que todas as vezes,
antes de saírem de vossas casas, se olham ao espelho ou quando dizem aos vossos
familiares que estão a fazer o melhor que sabem, ora, eu quero acreditar que
realmente o fazem!
Obrigada.