"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Caros Senhores do poder,

            Quando somos crianças, no infantário, ensinam-nos a não sermos egoístas… creio que a vós também lhes tivessem ensinado algo semelhante. É por isso que não compreendo os vossos actos.
            Como é que é possível existir tanto apego a pedacinhos rectangulares de papel cuja textura está mais do que contaminada? Porque insistais vós em falar ao vosso povo de uns mostrengos horrendos denominados “mercados”, e não lhes explicais que esses “mercados” são apenas homens que idolatram esse papel? Pouco lhes importa se as nações passam fome, se populações morrem sem cuidados médicos, ou se a geração seguinte terá sequer condições ambientais para existir. Contudo, acho que eles se esquecem que sem nós, eles próprios não subsistirão. O comércio terá fim, a indústria idem aspas, e o ambiente estará, entretanto, tão danificado que nem a agricultura nos poderá dar auxílio. E depois? Que lhes adianta os cofres cheios? Esperem lá, já me lembro do nome que dão: é dinheiro. É isso que irão comer? Está mais do que visto que o sistema em que hoje vivemos (capitalismo, para quem não sabe o nome) não serve. Nós, jovens, que ocuparemos os vossos lugares, nós que somos os vossos filhos, sobrinhos (…) propomos que comecem a dar prioridade ao conhecimento e à Natureza. Deixem de procurar em cada esquina uma oportunidade de negócio. Ao povo, parem de lhes dar aquilo a que a civilização romana chamava de “pão e circo”, que actualmente é mais “Rendimento mínimo e Casa dos Segredos”, para os distraírem e, assim, se protegerem de eventuais revoluções. Mostrem que a educação é de que se faz o ser humano. Sejam criativos. Sejam inteligentes. Sejam utópicos e façam de todo para tornar real.
            Nós, portugueses, gostamos de tratar o Estado como o culpado por tudo e mais alguma coisa, pois esquecemo-nos que nós somos o Estado. Isto porque, nós, portugueses, estamos constantemente à espera que alguém venha resolver os nossos problemas. Acabando assim por colocar em cima de outrem responsabilidades que somente a nós nos pertencem, mas que feria o nosso ego não as saber valer. Creio que nos custa a entender que a Humanidade existe por e para todos nós; não tentem fugir daquilo que fazem parte. É estúpido. Levantem-se dessas secretárias tão bem polidas e envernizadas. Ponham a mão na terra e ganhem-lhe amor. Vós precisais de todo o mundo. E o mundo precisa de vós. As pessoas deverão, também, continuar a ser o mais importante. Para que tudo funcione. Vós governantes e nós jovens temos o maior poder do Homem: o conhecimento. Vamos dar-lhe utilidade.
            No infantário ensinam-nos a não sermos gananciosos e a ajudar o próximo, não é? Então, deixem de pensar no ursinho do bebé do Sarkozy. Estão lembrados de que há países, fechados para si mesmos, que pela calada continuam a desenvolver-se e que já reúnem capacidade para destruir este mundo através de bombas? E não estou a falar de jogos de Playstation. É bom que continuem a procurar vida em Marte, caso contrário, não sei como nos safarmos. Estão lembrados de que já fomos a maior potência mundial? Antes de começarmos a delirar com o ouro do Brasil…
            Perdoem-me a objectividade, mas eu apenas estou a lutar pelo meu futuro. Porque eu também mereço um. E mereço, de igual modo, que cuidem dele enquanto eu cresço. E quando falo de mim, falo dos jovens cujo nome conheceis, cujo nome não conheceis, falo por todos! Parem de tratar cada fronteira como se fosse a vossa sétima vida. Parem de julgar que serão eternos e vosso poder jamais será posto em causa. Façam por conseguir cada vez mais e melhor. Por vós. Por nós. Pelos que ainda virão. E até pelos vossos antepassados que tanto lutaram para que vós tivésseis o que têm no presente e que, neste momento, devem estar às voltas nos túmulos a ver tanto erro cometido novamente. Parem de achar que o mundo é vosso e que o conseguem amarrotar e usar de novo (…). Ou então eu terei medo de respirar. Parem de comprar e deitar fora, sem que vos afecte saber que a cada gesto desses tiram vidas animais. Partilhem; aceitem que a maior parte de vós possui mais riqueza do que a suficiente, e que nós, deste lado, lutamos arduamente por uma pequena parte do que vocês têm. Recordem-se, por exemplo, que em 2010, Barcelona ficou, nos meses de Verão, sem água potável, tendo de comprar ao estrangeiro. Água potável. Não acontece só aos outros! Prestem atenção a mais isto: não temos todo o tempo do mundo! Mudem as vossas atitudes a partir deste segundo.
            E é assim que concluo, porque no infantário me ensinaram a não brigar, a ser prudente, ensinaram-me que os gestos valem mais do que promessas, ensinaram-me a assumir os meus erros e, principalmente, a corrigi-los. E quero acreditar que vos ensinaram o mesmo. Que vós sois capazes de mudar as vossas prioridades e colocarem a Humanidade em primeiro lugar. Quero acreditar que todas as vezes, antes de saírem de vossas casas, se olham ao espelho ou quando dizem aos vossos familiares que estão a fazer o melhor que sabem, ora, eu quero acreditar que realmente o fazem!

Obrigada.
Rute Rita

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