Solta-se em mim um grito silencioso por querer sair deste país egoísta,
desigual e comodista. Não cómodo como o regaço da nossa avó, que nos acariciava
o cabelo enquanto dizia que viríamos a crescer, a ser bons homens. Cresci, mas
não me sinto bem nesta realidade. O meu futuro está incerto perante tal negrume
na minha terra natal e comodidade é algo que nela desconheço.
Não consigo ser um bom homem face à desonestidade entranhada nos
portugueses: um povo, outrora de grandes conquistas, que se virou para o
facilitismo e para a desonestidade. A versão XXI do português é, na sua
essência, um murro no estômago de todos aqueles que lutaram pelo mínimo de
respeito e igualdade.
O dinheiro corrompe-nos as veias, torna-nos maus. Por ele, os governantes
viraram vilões. Não resistiram ao brilho das moedas, ao cheiro das notas;
quiseram evitar que se perdesse nas mãos do Zé – aquele sujeito bêbedo e
ignorante. Guardaram-no, seguro, nos seus bolsos. Foram-no amealhando, e o povo
anuiu, embrulhado na comodidade da esmola que eles lhe davam, mesmo
desconfiando do que guardavam os líderes nos seus bolsos. Isto, porque o
português sempre foi esperto e procura trabalhar o menos possível. Enquanto recebia,
tudo corria bem. Hoje, em plena crise, o português não procura lutar contra a
maré, espera que alguém o faça por si. O português quer melhorar a vida, mas não
quer trabalhar mais por isso. O português não joga em equipa; prefere atirar a toalha ao chão e pedir esmola.
Se foi para isto que eu cresci, desilude-me que seja para ver os
portugueses cavar a sua própria sepultura.
0 comentários:
Enviar um comentário