É irónico que, poucos dias depois da cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos - um evento que procura promover a fraternidade entre povos -, surjam notícias preocupantes relacionadas com o próprio comportamento do Homem em sociedade. Esta semana, um artigo publicado pelo jornal "PÚBLICO" trouxe-me uma estranha sensação de déjà-vu.
Com a crise a apertar cada vez mais a Europa, vemos um extremar de comportamentos dentro das nações em maiores dificuldades. Dentro deste grupo de países, a Grécia é o mais afetado e que mais rapidamente caminha para o precipício. Além dos problemas económico-financeiros, os gregos têm sido um exemplo recorrente no que toca aos atos de maior violência, especialmente em manifestações contra a austeridade.
O tal artigo que encontrei é alarmante e relembra os tempos pré-II Guerra Mundial. Nessa época, devido às dificuldades económicas, muitos dos países europeus viraram-se para si mesmos, alimentando nacionalismos extremos, motivados e controlados por diferentes pulsos de ferro. Nesta Europa, dominava a Alemanha, de Hitler, apoiada pela Itália, de Mussolini.
Graças a estas exaltações nacionais, milhares de imigrantes e pessoas de outras culturas sofreram represálias - algumas delas, as mais desumanas de que há memória. Além do racismo, muitas destas purgas foram alimentadas pelos problemas económicos em que os países europeus se encontravam, graças a uma grave crise económica cujos efeitos demoraram anos a desaparecer.
No século XXI, a Europa assiste a uma grave crise económico-financeira resultante do grande aumento das dívidas soberanas nos países da zona Euro. No entanto, há mais em jogo do que dívidas. Nós, europeus, assistimos a uma União Europeia (UE) que luta para se manter ligada à vida, a todo o custo.
O problema foi a UE mostrar (mais uma vez) que não é um grupo, mas uma hierarquia de poder onde os países mais poderosos - a Alemanha (como sempre) e a França - ditam propostas que provêm de desejos próprios e não de uma solidariedade comum, como uma união deste género necessita neste momento.
Com cada vez mais países a pedirem ajuda financeira, a UE vai perdendo a sua ténue colaboração entre estados-membros. Em oposição, vemos os países a olhar para o seu umbigo, sacrificando outros, como a Grécia.
Os gregos encontram-se numa situação alarmante e com cada vez menos apoios internacionais. A violência do povo já se fez sentir contra o poder mas encontrou um outro bode expiatório: os imigrantes. Sim, novamente os imigrantes.
O "PÚBLICO" fala de um aumento da violência em ataques contra imigrantes, na Grécia. As próprias autoridades gregas procuram impedir a entrada de imigrantes ilegais no país. Para Nikos Dendias, a imigração é "uma bomba nos pilares da sociedade e do Estado", nesta altura de crise, sendo "talvez mais importante que o problema financeiro".
Já há uns meses, Sarkozy, numa tentativa de cativar os eleitores mais conservadores, falou em medidas restritivas para a entrada de estrangeiros na França.
Agora pergunto, serão os imigrantes culpados pela crise que atravessam os estados-membros? Será que a solução passa por varrer os estrangeiros que trabalham fora do seu país?
Ouço, inúmeras vezes, portugueses a mandar bocas para o ar, culpabilizando "ucranianos", "pretos" e "ciganos" por vários problemas que persistem na sociedade. Não admiram estes argumentos, pois é mais fácil acusar quem não é da nossa cultura, quem não nasceu cá.
Termino, pensando se não seria mais viável apostar-se em medidas de incentivo às diferentes economias, sobretudo no tratamento do desemprego. Podem muitos pensar que expulsar os imigrantes ilegais vai dar emprego aos naturais de certo país Pode realmente empregar alguns, mas não nos esqueçamos que são essas pessoas que fazem os trabalhos que nós não queremos fazer. Graças a eles, algumas sociedades conseguiram manter-se rejuvenescidas, como a nossa - permitindo uma continuidade do sistema de estado social. E o mais importante neste momento é correr com eles?
Realmente, as mentalidades não mudaram com os tempos. Continuamos a atacar quem não é "nosso" e rapidamente escorraçamos os imigrantes quando nos sentimos mais apertados. Mas desenganem-se, porque eles vão embora e as coisas continuarão a piorar para quem cá ficar.
Fábio André Silva
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