"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

# Coisas que não entendo (3)

Excursões a Évora

"Os cerca de 100 apoiantes de José Sócrates que se deslocaram da Covilhã a Évora para mostrar solidariedade ao antigo primeiro-ministro ficaram junto à cadeia. Visitas não foram autorizadas." - DN

Eis que se abre um precedente importante. Estas viagens para ver Sócrates pode ser benéfico para o país a nível monetário (sim utilizei "Sócrates" e "benéfico" na mesma frase"). Abre-se a porta a um destino turístico para a terceira idade aderir nas excursões.

Mais uma chance para quem dirige este negócio de viagens:
- Visite a Serra da Estrela e saboreie o tradicional queijo da Serra;
- Visite o Gerês e capte em fotografias a beleza natural em todo o seu esplendor;
- Visite José Sócrates e proteste pela sua liberdade à porta da prisão;

Parece que já estou a ver o cartaz a anunciar a viagem: 

"Visita a Sócrates, 2015

Venha disfrutar de uma maravilhosa viagem às terras de Évora onde pode começar por aproveitar toda uma vasta gastronomia da terra culminando numa paragem à frente do Estabelecimento Prisional de Évora onde pode apelar à libertação de um ex-Primeiro Ministro.

Nesta viagem pode até dar asas à sua imaginação: Faça o seu cartaz de apoio a Sócrates e não se iniba de gritar a sua solidariedade com frases como "Presos políticos nunca mais" e "Se como um bocado de pão foi porque ele me deu pensão".

Conviva com outras pessoas que partilham o mesmo ideal e que não têm mais nada para fazer do que ir para a frente de uma prisão apelar à libertação de alguém que nem sequer dá conta que estão lá por ele por ter o LCD da cela num volume alto. 

Faça a sua merenda, prepare a câmara fotográfica e venha daí, Évora (e com sorte José Sócrates) esperam por si!"

Posto isto ... quem quer ir na próxima excursão?

domingo, 25 de janeiro de 2015

Syriza, o primeiro David?

Eis que na Grécia surge o primeiro movimento da mudança. O partido anti-austeridade Syriza venceu as eleições em terras helénicas e faz história.


Está criado o primeiro tornado, o abanão que muito país da União Europeia temia pelo poder que vem com ele. O rasgar com a conformidade, com o constante sacrifício sobre os quais alguns países estão subjugados. 
Como na história que todos conhecemos ergue-se assim David, de fisga em punho e brilho nos olhos perante um Golias prepotente, mas que não deixa de olhar para o pequeno adversário com alguma precaução.

Hoje começa a verdadeira caminhada. Será o Syriza o grito de ipiranga perante as "regras" que a UE tem regido como leis que castigam os menos afortunados ou apenas um movimento que respira outros ares e aparece de cara lavada, mas que pode ser abafado com o tempo pela máquina que é a União Europeia? A resposta parece estar nos país mais castigados, onde aparecemos nós e Espanha por exemplo. 

Já se ouvem palavras daqueles que governam, apelando a que as pessoas não se deixem contagiar por este movimento. A frase é sempre "(coloque aqui o país) não é a Grécia" ... Rajoy e Passos Coelho já exprimiram a sua preocupação com a vitória do Syriza.
Trocando por miúdos, o Syriza é aquele elemento da família que diz tudo sem rodeios e tem ideias revolucionárias e o resto da família tenta que ninguém o leve a sério por parecer maluco ...
Até Angela Merkel parece já ter pegado no telemóvel para falar com Putin para ele tomar acções porque este "maluquinho" parece estar a chatear o jantar de família.


A Grécia abanou as hostes com o Syriza, em Espanha cresce o Podemos ... resta saber quantos "David" serão precisos para derrubar Golias, porque apenas uma fisga certamente não será suficiente.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

# Coisas que não entendo (2)

A App dos solitários 

"Assim nasceu o Invisible Boyfriend (namorado invisível) - que apesar do nome também se refere às 'girlfriends' (namoradas) - uma aplicação que permite criar a sua cara metade. A app permite criar os pormenores de uma relação (como se conheceram, nome, idade, interesses)." - D.N.

E eis a resposta para todas as orações daqueles a quem as palavras "namorado", "namorada" ou "relação" dão aquela comichão chata e que complica logo o dia.
Matt Homann criou uma aplicação onde podes criar o teu namoro. Sim, tudo! Como se conheceram, o nome, a idade ... o que é que isto significa? Vais ser ainda mais patético nos jantares de família.


Eu sei que recentemente até saiu um filme "Her" onde um homem apaixona-se por um computador mas isto ultrapassa o aceitável. Há pessoas que vão preferir criar um namoro fictício e levar com os olhares das pessoas que depois de as ouvirem têm logo a ânsia de te internar, do que ser directa e dizer que é solteira/o. Enfim, cada um com a sua ideossincrasia e essas são para todos, malucos ou não.

But wait, there's more!
"Por 24,99 dólares por mês (cerca de 22 euros) fica-se com direto a cem sms (envia-se uma mensagem e recebe-se outra do suposto namorado/a) dez mensagens de voz e até uma mensagem escrita à mão."  


Isto cada vez fica melhor!!! Bem, os mais desesperados agora até já esfregam as mãos de contentamento. Antigamente (vá, antes desta ideia do catano) o pessoal solitário andava pelos chats, vibrava com qualquer sms do seu amor platónico mesmo que fosse só um "olá" e fazia stalking pelo Facebook ... coisas do passado, claramente ultrapassadas.

Jovem, estás com azar no amor? Nada temas! Vai ao site e cria uma obra de arte quem sabe digna do "50 shades of grey". Liberta o romancista que há em ti.Ah e se mesmo assim as coisas não funcionarem, bem, repensa a tua vida ... apaga o perfil e tenta de novo (porque jogar o "jogo real" é demasiado mainstream).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Empresários procuram-se

Texto criado e enviado por Mauricio Carlos De Jesus 

Vivo numa vila onde não temos quiosque, nem uma loja de desporto, nem um banco, ou mesmo um chamado hiper-mercado, sem residências para dormidas de turistas, não há pousada da juventude, discotecas ou pubs, tudo isto acontece devido há falta de empreendedorismo. 

Mas por outro lado temos fados, os fados de São Jorge, Açores, mini-mercados, cafés e restaurantes, sociedades filarmónicas, devoção e crença católica e muito mais. Noto que ha muito romantismo para ser explorado. Diga-se isto é o campo, que se pode fazer? Mas agradável, muito agradável. Tenho saudade de um bate-papo com umas miúdas de algum nível. É como se já tivesse feito uma tese sobre o sexo feminino mas quero apresentar essa mesma tese a alguém, e esse publico esta desatento e desinteressado. Que aborrecimento. Digo-vos mais estudem muito e sejam alguém porque senão o que aparecerá a vossa porta é trabalho nas obras, beber umas jolas de manha outras á tarde uns cigarros e mandar uns piropos a quem passa, somos os trolhas de serviço que animam os cafes e não encantam ninguém.

Mas há esperança. Consta que apartir de Março, final de Março, começam haver voos low-cost para os Açores e esperam-se um aumento no turismo. A EasyJet e Raynair começam a fazer voos semanais para São Miguel, poderá haver algumas pessoas com interesse em vir a são Jorge. Quem é que não gosta desta ilha? Um amigo meu diz que se ganhar o euro milhões manda vir um contentor com mulheres para cá. So para a malta.


Ai a única coisa interessante é que podemos sonhar e alimentar os sonhos neste pequeno paraíso e ter um vida agradável dentro dos limites. Comunidade em geral, fica aqui uma deixa, visitem os açores e mexam com a nossa economia. Afinal de conta somos todos filhos da mesma patria.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Aquela selfie ...

"A miss que representa Israel no concurso que junta algumas das mulheres mais belas do mundo publicou uma fotografia na rede social Instagram onde surge próxima da miss Líbano. O problema é que os dois países estão oficialmente em guerra e há quem exija que a miss Líbano perca o título por se ter permitido posar com a inimiga." - Observador.pt

O mundo está a tornar-se, digamos, mesquinha.
Num concurso onde apenas está em causa a beleza feminina no seu esplendor bastou uma fotografia para criar um incidente diplomático. Eu sei que Helena de Tróia fazia navegar navios de guerra mas isto já me parece exagerado ...

Uma selfie pode criar confrontos e desta vez não é entre duas miúdas a fazer duckface, é mesmo envolvendo países. Com esta fotografia (as meninas em causa são as duas primeiras a contar da esquerda, logo não é nada mau mesmo) lançou-se o caos nas redes sociais com muitos libaneses com comentários a exigirem a destituição imediata de Saly Greige como miss Líbano. Onde é que esta fotografia pode provocar ódio, ou passar uma mensagem negativa? A rapariga nem escreveu como descrição "smile para os haters ..." nem pousou com o ex-namorado da outra, nem houve comment da outra concorrente a insultar a possivel celulite e a chamar-lhe porca. Perdoem-me, mas se foge destas picardias de rede social, para mim não preenche os requesitos para recomeçar uma guerra.

Entramos numa fase onde já não podemos criar, contemplar ou opinar algo sem que venha algo descabido ou exagerado e este exemplo é gritante. Não se registam confrontos entre as duas partes há algum tempo e espero sinceramente que uma simples fotografia não seja o despotelar de mais violência. Não há necessidade para criar impacto em algo que apenas mostra o lado bonito do mundo, as mulheres.

Deixem os concurso de beleza serem o que são, não criem monstros. Há coisas mais importantes para resolver do que estar a agitar aquilo que vai coroar a "mulher mais bonita do Mundo".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

#Coisas que não entendo (1)

Começa aqui algo novo no Crónicas em Branco.
Com o título "Coisas que não entendo", deixaremos alguns pensamentos e opiniões que na nossa visão do Mundo não fazem muito sentido. Esperemos que no fim consigamos ficar mais inteligentes e perceber a utilidade do que criticamos/satirizamos ... mas não colocamos muita fé nisso.


Eu tentei ser forte. Tentei perceber a sua finalidade e até o lado inteligente da situação, mas não deu. Perdoem-me mas é aqui que defino a linha: É tempo de falar sobre os anúncios do Intermaché.

Uma pessoa até aguenta quando, há uns tempos atrás, uma certa cadeia de hipermercados (que agora é mais holandesa que nossa) criou uma música e danificou o nosso tecido cerebral ao ponto de nós a cantarolarmos mesmo sem querermos tal coisa. Agora aparece o Intermaché com um anúncio que nos faz repensar a nossa realidade.

Aqui fica para depois falarmos melhor.


Já viram? Não foi uma experiência daquelas que vale a pena repetir? Pois, eu também achei. Aqui ficam os meus apontamentos.

1. Que mãe deixa acabar o leite da criança e volta a colocar o recipiente na prateleira?
2. Isto, se fosse real, abriria um precedente. Exemplos:
- "Estou D. Alice? Olhe eu estou aqui com uns amigos a sair da discoteca e dava mesmo jeito uns limões e vodka preta ... dá para passar ai?"
- "Estou D. Alice? Eu estou com a minha namorada e já fui a três farmácias mas está tudo fechado. Não dá para passar aí para ... pronto comprar aquilo? É que ela é mesmo gira e está a ficar impaciente ..."

3. Isto é só para a D. Alice ou cada intermaché vai dar um número de uma funcionária para ligarmos a tarde e a más horas?

O outro anúncio é um senhor a querer ajudar uma velha com as compras de casa quando ela nem o conhece de lado nenhum. "Já sabe, qualquer coisa é só ligar" ... isto não é outro tipo de digamos negócio que nada tem a ver com o Intermaché?

E assim se mostra o Intermaché: com mães desnaturadas, com estranhos a ajudar velhotas e com funcionários a trabalhar fora do horário e a abrir a loja fora do horário estipulado. É tão bom ter televisão assim ...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Je Suis Charlie

Neste dia 7 de Janeiro de 2015 aconteceu um atentado na redação do "Charlie Hebdo". Atentado esse que levou a que vidas fossem levadas sem qualquer tipo de justificação válida, num acto que é tudo menos plausível seja qual for o credo ou crença que aqueles que levaram esta monstruosidade a cabo possam defender. 

Atacaram um local onde era feito humor, a melhor arma contra qualquer mal que este mundo possa criar. Sem consideração assassinaram pessoas que o único pecado que estavam a fazer era o seu trabalho, o criar de um humor negro que goste-se ou não nunca é indiferente. É inconcebível pensar que uma caracterização humorística possa ser motivo para retirar a vida a alguém.
Como se esta barbaridade não bastasse, talvez na mente deles ainda a defender a honra do seu Deus, não tiveram remorsos em assassinar polícias que os tentavam deter. "Vingamos o profeta" diziam os terroristas no momento da fuga ... 


Somos um povo com sorte. Possuímos a liberdade de nos expressar e graças a muitos esforços de pessoas em tempos anteriores ao meu tenho a possibilidade de escrever este texto sem quaiquer tipo de barreiras. É um direito que nos assiste e que não devemos ter medo de utilizar.
O que aconteceu hoje foi um ataque que envolveu sangue para provar um ponto, mas para mim isto apenas mostra a força que uma palavra ou um desenho podem ter numa sociedade por muito bacoca que possa ser. Jamais devemos ter medo de usar a nossa imaginação e expressa-la como entendermos. Foi com essa premissa, com essa liberdade que todos temos, que criei o Crónicas tal como muitos outros criaram os seus espaços. Não idealizo um Mundo onde a liberdade de expressão nos seja arrancada contra a nossa vontade e não atentado que possa fazer com que isso seja uma realidade.


Na Praça da República milhares de pessoas reuniram-se em solidariedade com o que se passou no Charlie Hebdo. Muitos erguem canetas e a mensagem não podia ser mais clara: Uma caneta é bem mais forte do que qualquer arma e a violência não silenciará a liberdade de expressão.
Somos todos Charlie.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Não há tempo mas há sempre imagem desse tempo



Para o público, para o espectador, para o consumidor, para o materialista, para o fútil, para o socialista, para o Homem, para o mundo. 

“Não tenho tempo”, diz cada um deles. É irónico, não faz sentido.

Não têm tempo para fazer nada mas parece que fazem tudo. Vão às compras, vão ao cinema, vão imensas vezes a restaurantes e a comida tem sempre tão bom aspeto. Não sei se é dos filtros colocados nas fotografias ou do apetite que tenho cada vez que as vejo, nostálgicas e brilhantes tipo sépia. Dizem o que sentem através de smiles e imagens bastante ilustrativas no Instagram. Identificam amigos, filmam concertos inteiros, vão a ginásios com muitos espelhos, querem uma Go Pro para mostrarem o mesmo numa outra perspetiva e com qualidade TOP. Não conseguem publicar sem rever e apagar o que, com ânsia, os outros sem tempo vão ver. Compram o último telemóvel daquela marca com a maçã mordida alusiva ao grande senhor da computação  Alan Turing e tiram-lhe uma fotografia com o telemóvel anterior para, sem tempo, a publicar. Não têm tempo para os filhos e netos, restante família e amigos, a não ser que reencontrem alguém após três anos sem se falar, para, sem tempo, mostrar ao mundo em sorrisos pretensiosos o quão gostam deles. Não há tempo para atividades, pelo menos para as que não vão ser filmadas para posteriormente terem “gostos” ou “partilhas”, ou quiçá comentários. Não há vontade para ver vídeos de cinco minutos ou reportagens de vinte sobre factos científicos ou história mundial contudo a vontade muda de cor se der para tirar uma fotografia à televisão enquanto se vê uma série ou um filme de domingo. Ai o domingo, esse dia tão bom para tirar autênticos retratos à televisão e publicá-las criticando essas empresas privadas com falta de bom gosto dando graças a Deus a existência da Internet. Deus esse que é apenas metafórico. Pois os que não têm tempo também não têm crenças, nem vão à missa. Lá não há wireless, nem smiles tristes para partilhar. 

É lógico que à custa de tudo isto, o povo distrai-se, diverte-se e conhece coisas novas e bonitas. O que me faz impressão apenas é o mau uso do atual, do inovador. 

Acordar numa nova realidade, num outro mundo, com outro público, outro espectador, outro consumidor, uma nova utopia. Com gente modesta, seres que convivem a cheirar o ar que vento nos traz com o cheiro das árvores e não o cheiro a fechado, a escritório, a quarto ou sala, a luz artificial, a flashes. Novos ideais para o Homem, tecnologias com outros focos, um mundo melhor.

Um novo 2015.
Um Feliz Ano Novo.