Para o público, para o espectador, para o consumidor, para o
materialista, para o fútil, para o socialista, para o Homem, para o mundo.
“Não tenho tempo”, diz cada um deles. É irónico, não faz
sentido.
Não têm tempo para fazer nada mas parece que fazem tudo. Vão
às compras, vão ao cinema, vão imensas vezes a restaurantes e a comida tem
sempre tão bom aspeto. Não sei se é dos filtros colocados nas fotografias ou do
apetite que tenho cada vez que as vejo, nostálgicas e brilhantes tipo sépia.
Dizem o que sentem através de smiles e imagens bastante ilustrativas no
Instagram. Identificam amigos, filmam concertos inteiros, vão a ginásios com
muitos espelhos, querem uma Go Pro para mostrarem o mesmo numa outra perspetiva
e com qualidade TOP. Não conseguem publicar sem rever e apagar o que, com
ânsia, os outros sem tempo vão ver. Compram o último telemóvel daquela marca
com a maçã mordida alusiva ao grande senhor da computação Alan Turing e tiram-lhe uma fotografia
com o telemóvel anterior para, sem tempo, a publicar. Não têm tempo para os
filhos e netos, restante família e amigos, a não ser que reencontrem alguém
após três anos sem se falar, para, sem tempo, mostrar ao mundo em sorrisos
pretensiosos o quão gostam deles. Não há tempo para atividades, pelo menos para
as que não vão ser filmadas para posteriormente terem “gostos” ou “partilhas”,
ou quiçá comentários. Não há vontade para ver vídeos de cinco minutos ou
reportagens de vinte sobre factos científicos ou história mundial contudo a
vontade muda de cor se der para tirar uma fotografia à televisão enquanto se vê
uma série ou um filme de domingo. Ai o domingo, esse dia tão bom para tirar autênticos
retratos à televisão e publicá-las criticando essas empresas privadas com falta
de bom gosto dando graças a Deus a existência da Internet. Deus esse que é
apenas metafórico. Pois os que não têm tempo também não têm crenças, nem vão à
missa. Lá não há wireless, nem smiles tristes para partilhar.
É lógico que à custa de tudo isto, o povo distrai-se,
diverte-se e conhece coisas novas e bonitas. O que me faz impressão apenas é o
mau uso do atual, do inovador.
Acordar numa nova realidade, num outro mundo, com outro
público, outro espectador, outro consumidor, uma nova utopia. Com gente
modesta, seres que convivem a cheirar o ar que vento nos traz com o cheiro das
árvores e não o cheiro a fechado, a escritório, a quarto ou sala, a luz
artificial, a flashes. Novos ideais para o Homem, tecnologias com outros focos,
um mundo melhor.
Um novo 2015.
Um Feliz Ano Novo.
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