"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
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"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Eleições Presidenciais: The Season Finale


Eu gostava de escrever esta crónica com total imparcialidade. A verdade é que cheguei mesmo a tentar. Mas não consigo. Por isso, mal comecei a escrever as primeiras letras do primeiro parágrafo, desisti. Pronto, é isto. E, afinal, um texto de opinião é isso mesmo; e vale o que vale.

Fotografia: Sábado
Estamos a algumas horas das eleições presidenciais americanas e – se o expectável era que a ansiedade fosse ficando cada vez maior – a verdade é que é, precisamente, neste momento que respiro de alívio pela primeira vez.
Depois da última semana, ou talvez mais, em que várias sondagens divulgavam aquilo a que chamamos de “empate técnico” entre os candidatos Trump e Hillary, com diferenças percentuais tão ridiculamente mínimas que, a ter em conta as margens de erro, tornavam inconclusivas quaisquer análises, saíram, nas últimas horas desta segunda-feira, novos resultados que, mesmo a ter em conta os 2 ou 3% de margem de erro, concediam a vitória a Hillary Clinton.
Não nos vamos esquecer que, ao longo de toda a campanha, de um modo geral, os estudos de opinião feitos nunca obtiveram resultados suficientemente confortáveis, que me permitissem ficar sentadinha no sofá, sossegadita por estar garantida a vitória de Clinton. Muito pelo contrário, esta campanha foi um teste à minha capacidade de resistir ao stress. Porém, mesmo sabendo que estes últimos dados possam ter sido fruto, em parte, da aparente acalmia do FBI em relação à sua investigação a Hillary e, pondo mesmo em hipótese, a inibição que alguns americanos poderão sentir na hora de responder a uma sondagem revelando a intenção de votar em Trump (muito por culpa das opiniões controversas do candidato), respiro finalmente de alívio por aumentar a probabilidade de vencer a candidata democrata.
Os apoiantes de Trump que me perdoem, mas governar um país é muito mais do que falar em desemprego, em mexicanos, em capital, em muros e, naquilo que eu apresento como, a nova vaga de “escravatura” que Trump pretende implementar nos EUA. Os americanos seriam os novos escravos do magnata que, a troco de nada, investem o seu voto num empresário “de sucesso” (à la sonho americano), o qual pouco conhece de direitos dos trabalhadores, mas parece dominar as ideias supérfluas do racismo, do sexismo, do assédio e da covardia. Além disso, receio que, com a vitória do republicano, se acabe a noção de diplomacia nas relações norte-americanas e que assistamos a uma espécie de Brexit à americana, com o desinteresse pelas organizações internacionais. Nem a mais recente vaga de apoiantes “Women for Trump” consegue apagar da minha memória as conversas de balneário do republicano com os seus amigos loiros, de rosto alaranjado pela base em excesso, com discursos machistas, populistas e demagogos.
Do lado oposto, ao longo da campanha de Hillary Clinton, muitas pessoas pareciam mais preocupadas em confrontar a candidata com a governação do seu marido do que propriamente em interpelá-la acerca das suas ideias e carreira política. Sim, porque o meio político não é algo desconhecido para Hillary e não me refiro aos anos em que Bill Clinton foi presidente. Mas sim, aos anos da vida da democrata investidos na sua própria carreira desde que se graduou em Ciência Política, do período de assessora jurídica do Congresso à liderança na defesa da criação do Programa de Seguro de Saúde para Crianças, da Lei da Adoção e da Segurança Familiar e da Lei dos Adotivos Independentes, do período de senadora, sendo a primeira First Lady a concorrer para um cargo político eletivo, ao seu tempo de secretária de Estado do governo Obama quando se tornou a primeira mulher a ser nomeada para a presidência por um grande partido político norte-americano.
Trump coloca abaixo de si as mulheres com quem se envolve, já Hillary vê o nome do seu marido sobrepor-se ao seu na hora de falar em público, na mídia, por entre os republicanos.
 A balança parece estar bem desigual; de um lado, um populista, do outro lado, a miúda popular. No entanto, os americanos parecem estar mais desencantados e divididos do que nunca e isso lá vai beneficiando quem professa separatismos e discursos fáceis de vender, o que, de alguma forma, vai equilibrando a balança.
Resta esperar pela madrugada de terça para quarta, para sabermos oficialmente como culminará esta season finale das presidenciais americanas 2016, com a certeza de que, qualquer que seja o resultado, estas eleições já têm lugar VIP na história política americana e mundial.

«Se Donald Trump ganhar, a América será como um planeta que sai da sua órbita e que viajará sem tino nem destino pelo espaço sideral da vida política global.» in Público
«Jackson acha que o apoio a Trump é, acima de tudo, “uma resistência à Presidência de Obama e aos direitos conquistados pela comunidade LGBT, por exemplo”.» in Público

«“Votei pela primeira vez durante a Presidência de Reagan, e nessa altura era inimaginável virmos a ter um Presidente afro-americano e, possivelmente, uma Presidente mulher. Bastava dizer as palavras ‘Casa Branca’ e a imagem que surgia era a de homens brancos vestidos de fato e gravata. Essa maré tem vindo a mudar muito lentamente nos últimos 100 anos, e por isso olho o futuro com optimismo.”» in Público

Rute Rita Maia

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