"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

domingo, 24 de agosto de 2014

Se eu me perder ...

Não me procures. 

Não tentes descobrir os trilhos que percorri, o sítio onde me deixei levar e me perdi. 

Não tenhas o querer inato de saber como estou, que força foi esta que me levou.

Não procures no livro de respostas aquela que me vai encontrar, não terá frutos a busca por algo que não existe.

Não te emociones com aquilo que eu sou, a lágrima que possas derramar pode ser um luxo que não podes desperdiçar comigo.

Não deixes que a tua mente tente construir o que se passa na minha, de nada valerá o esforço.

Não desvendes a razão do meu desaparecimento porque não há investida emocional que o vá justificar.

Não queiras mover o Mundo para me encontrar pois o esforço seria inglório.


Não te preocupes comigo porque a tua busca será efémera e sem sabor. 



Mas se mesmo assim quiseres encontrar-me não precisas de uma demanda. Não é necessário enfrentar incertezas e destinos movediços. Apenas fecha os olhos e toca no teu coração. É ai que eu estarei sempre, por muito que me possa perder ...

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Suspiro

Campanhã, 11 de Agosto de 2014.

Como muitos outros esperava pela hora de chegada do comboio que me iria trazer de volta a casa após um dia de trabalho. Como distracção olhava em meu redor, pensando que talvez o tempo de espera fosse mais sustentável, mas houve algo que me captou a atenção e fez enriquecer o meu dia.

Chegava à estação um comboio regional, pronto para uma viagem longa. À minha frente estava um casal de jovens namorados prestes a despedirem-se com uma particularidade: ambos eram mudos. Isso não foi impedimento para uma das cenas mais ternurentas que já presenciei. Sem que uma palavra fosse precisa despediram-se apaixonadamente no momento em que ele já de mala na mão se encontrava à porta da carruagem. Aquilo não foi uma simples despedida, foi uma declaração de amor mútuo. O mundo parou naquele instante para eles. 

O contacto entre ambos não terminou no momento em que o rapaz subiu o degrau do comboio. Com o olhar a rapariga seguiu o seu trajecto até ele encontrar o seu lugar, onde ficou ao lado da janela para a poder contemplar. Ai voltaram a "falar", prometendo voltar a comunicar no momento em que o comboio terminasse a sua função ingrata de os separar por momentos. O inevitável aconteceu e o comboio saiu da estação rumo a outras paragens. Nesse momento, em que um adeus foi imprescindível, foi quando (já o comboio ia longe) a rapariga coloca a mão no peito e larga um suspiro. Aquele suspiro foi sentido, foi único, foi prova de amor para com aquele rapaz que partia numa certa carruagem ... Saiu cabisbaixa da estação, sabendo que parte dela também foi naquele comboio.

Tinha a acompanhar-me o som que os meus phones alimentavam os meus ouvidos mas foi aquela melodia que os meus olhos captaram que me prendeu. Não foram precisas palavras para que o sentimento estivesse lá, o afecto estava em todo o seu esplendor naquele momento que mesmo que só durasse um par de minutos para eles foi a eternidade no seu auge.

Na minha viagem de regresso não deixei de pensar no momento e sorria sabendo que afinal o Mundo tem momentos absolutamente fantásticos e que nem tudo tem de ser frio ou vazio. O amor existe e não precisa de exageros, apenas precisa de existir e ser alimentado.

Não conheço as pessoas em questão (quem sabe se algum dia poderão ler isto) mas desejo-lhes as maiores felicidades. Quem ama assim merece um final feliz.



domingo, 3 de agosto de 2014

BES: the Good, the Bad and the Ugly

O BES deixa de existir e é pelas palavras de Carlos Costa, Governador Banco de Portugal, que nasce uma outra entidade bancária: o "Novo Banco".

Este Novo Banco ficará com propriedades do ex-BES sem os activos problemáticos. Esses irão para o "Bad Bank" que vai gerir os activos tóxicos que (diz-se por aí) tem como exemplo o BES Angola. Na comunicação o Governador do Banco de Portugal diz que o banco violou as suas orientações e que poderá haver processos-crime. 
O Plano de Resolução é assim o coelho tirado da cartola para salvar o "sólido" Banco Espírito Santo que era gerido pelo DDT (Dono Disto Tudo) Ricardo Salgado e é Vítor Bento a gerir este Novo Banco que até se apressou a deixar um comunicado cheio de "dignidade" como se tivesse aberto a porta para a salvação.

Ok, vamos por partes. O BES desaparece e amanhã nasce o Novo Banco ... pelo nome imagino que o pessoal do Marketing esteja de férias e não havia muita imaginação. Os activos serão divididos entre o "bom" e o "mau" o que deve significar que a dupla Cristiano Ronaldo/D. Inércia será desfeita devido aos resultados. Ninguém sabe bem que activos irão para o "Bad Bank"  liderado por Luís Máximo mas muita gente já tem nomes pensados como Artur, Sidnei ou até Jara ... 

Resgatar o banco irá custar 4.900 milhões de euros ... Paulo Portas não deve ficar muito contente. É coisa para não receber um submarino no Natal. Pergunta pessoal: se o banco desapareceu (e os depositantes estão salvaguardados como Costa afirmou) vamos resgatar o quê?!

Tal como foi dito no título (sim, porque tudo está ligado nesta fantástica crónica) falta falar do "ugly". Esse é Ricardo Salgado que foi designado por Carlos Costa como alguém que faltou à palavra (e já agora ao pagamento) das obrigações do banco. O homem que já foi considerado "Banker of the Year" e a sua família derraparam e agora o banco caiu. É de facto deprimente e decerto o pior ainda está para vir com o homem a aceitar um cargo europeu a nível económico ... ninguém merece, coitado do senhor.

Como nota final na sua intervenção Carlos Costa falou para os depositantes que têm dinheiro no ex-BES. O Novo Banco está capitalizado e em condições de merecer a confiança ee que as PME's podem contar com o Novo Banco como solução de continuidades. Terminou falando em "serenidade e tranquilidade para amanhã". Ao ouvir o senhor criou-me na cabeça o cenário de um médico que após uma lavagem ao estômago do doente ainda diz diz "Não se preocupe, isto que comeu complicou aqui um bocado o estômago e podia ter-lhe custado o fígado, mas coma à vontade amigo, sem problemas!".

Hoje acaba o BES. Uma família, um banco, um trinta e um para muitos portugueses.
Obrigado por tudo. REST IN PEACE.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Memórias das NOS(sa) convivência

"You get a strange feeling when you’re about to leave a place. Like you’ll not only miss the people you love but you’ll miss the person you are now at this time and this place, because you’ll never be this way ever again."
Azar Nafisi

Já passou uma semana desde que me despedi deste local e das pessoas que me acompanharam em duas semanas absolutamente fantásticas. Continuo a passar por ai, mas desta vez sem entrar, sempre com o mesmo desconforto e pena de não poder repetir uma rotina que me estava a dar um gosto inimaginável.

Nenhum de nós podia adivinhar o que conseguimos criar em tão curto espaço de tempo e essa é a magia que paira naquilo que fizemos. Naquele edifício brincamos com tazos, fizemos montagens, colagens e sketchs (onde este que vos fala conseguiu casar e divorciar-se em 2 minutos) e até (aparentemente) prometi um IPhone a alguém mas apesar de todo esse conjunto de exercícios "outside the box" foi neste local onde pudemos criar uma amizade de grupo. Ali partilhamos histórias, gargalhadas e momentos de seriedade quando o momento assim o pedia.

Quem lá esteve e viveu a experiência decerto que já pensou que se calhar fomos todos escolhidos a dedo para criar tal equipa. Tínhamos de tudo um pouco, a diversidade no seu apogeu. Do mais disparatado, passando pelo mais divertido, directo ou erudito e terminando no mais sui generis a nossa "team" foi uma autêntica panóplia de personalidades que foram reveladas ao longo de duas semanas.

Pessoalmente ganhei muito com a formação em sala. Ganhei amigos, pessoas que vou estimar para o resto da vida e a quem tenho não só empatia como respeito mútuo. Aproveito para dizer que se em algum momento fui longe com as "piadolas" que fazia deixo aqui "mea-culpa", o rapaz as vezes não sabe o que faz ...
Tenho noção que o que nós fizemos no dia 25 de Julho não foi um "adeus" mas sim um "até já". Fizemos questão de nos mantermos ligados para que mais experiências em grupo sejam levadas a cabo. O divertimento não acaba, apenas desacelerou para que depois tenha mais gosto.

Folgo pelo dia em que possamos estar juntos de novo e como disse no último dia foi um gosto ter-vos como colegas. NOS voltaremos a encontrar-nos.