"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

sábado, 27 de abril de 2019

O VOX de Espanha: mais um caso de sucesso da Extrema-Direita?


Em pleno fim-de-semana de eleições gerais na Espanha, é chegada a hora de conhecer melhor o Vox, um partido de Extrema-Direita fundado há meia dúzia de anos e que não pára de ganhar espaço no país vizinho.
Começemos pelo início. O Vox foi fundado em 2013 por Santiago Abascal, então ex-militante do Partido Popular (PP), cuja camisola vestiu durante cerca de catorze anos. Através desta brevíssima introdução podemos já ver que, ao contrário do que tem vindo a acontecer noutros países, este partido espanhol não é liderado por um candidato “anti-sistema”, mas sim, por um indivíduo fruto do próprio sistema político, uma vez que não só militou por um partido político, como também, exerceu já cargos políticos no país.
Contudo, as semelhanças com outros líderes da Direita radical tornam-se, desde logo, evidentes quando ouvimos soundbites como “os espanhóis primeiro” ou “juntos faremos Espanha grande de novo”, entre outros lançados num comício em Madrid em outubro do ano passado, o qual reuniu cerca de 9000 pessoas.
Aproveitando a onda populista anti-imigração que tem emergido na Europa, o Vox propõe, entre outras coisas, expulsar imigrantes em situação irregular, revogar a lei contra a violência de género, instaurar a prisão perpétua, eliminar a lei de memória histórica (a qual inclui medidas a favor das vítimas do franquismo) e proibir o aborto, a juntar à mensagem nacionalista e xenófoba do partido.
Também como outros candidatos europeus da ala direita, ao longo da campanha eleitoral, o Vox tem previligiado o contacto com o eleitorado através das redes sociais ao contacto veinculado pelos mass media. Procurando descredibilizar estes últimos.
Entenda-se que o "sucesso" a que me refiro no título do artigo pode não significar, em sentido lato, a eleição do partido no próximo Domingo, mas antes, o simples facto de este obter uma percentagem de votos significativamente superior à da eleição anterior ou até a possibilidade de formar governo em coligação.
Nas últimas eleições gerais, em 2016, o partido havia apenas obtido 47000 votos. Em finais de 2018, uma sondagem do CIS (Centro de Investigaciones Sociológicas) atribuía ao partido uma intenção de voto de apenas 1,4%. Atualmente, em vésperas de novo ato eleitoral, a mais recente sondagem atribui uns 10% ao partido liderado por Abascal.


Fotografia: EITB.EUS

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Eleições Presidenciais: The Season Finale


Eu gostava de escrever esta crónica com total imparcialidade. A verdade é que cheguei mesmo a tentar. Mas não consigo. Por isso, mal comecei a escrever as primeiras letras do primeiro parágrafo, desisti. Pronto, é isto. E, afinal, um texto de opinião é isso mesmo; e vale o que vale.

Fotografia: Sábado
Estamos a algumas horas das eleições presidenciais americanas e – se o expectável era que a ansiedade fosse ficando cada vez maior – a verdade é que é, precisamente, neste momento que respiro de alívio pela primeira vez.
Depois da última semana, ou talvez mais, em que várias sondagens divulgavam aquilo a que chamamos de “empate técnico” entre os candidatos Trump e Hillary, com diferenças percentuais tão ridiculamente mínimas que, a ter em conta as margens de erro, tornavam inconclusivas quaisquer análises, saíram, nas últimas horas desta segunda-feira, novos resultados que, mesmo a ter em conta os 2 ou 3% de margem de erro, concediam a vitória a Hillary Clinton.
Não nos vamos esquecer que, ao longo de toda a campanha, de um modo geral, os estudos de opinião feitos nunca obtiveram resultados suficientemente confortáveis, que me permitissem ficar sentadinha no sofá, sossegadita por estar garantida a vitória de Clinton. Muito pelo contrário, esta campanha foi um teste à minha capacidade de resistir ao stress. Porém, mesmo sabendo que estes últimos dados possam ter sido fruto, em parte, da aparente acalmia do FBI em relação à sua investigação a Hillary e, pondo mesmo em hipótese, a inibição que alguns americanos poderão sentir na hora de responder a uma sondagem revelando a intenção de votar em Trump (muito por culpa das opiniões controversas do candidato), respiro finalmente de alívio por aumentar a probabilidade de vencer a candidata democrata.
Os apoiantes de Trump que me perdoem, mas governar um país é muito mais do que falar em desemprego, em mexicanos, em capital, em muros e, naquilo que eu apresento como, a nova vaga de “escravatura” que Trump pretende implementar nos EUA. Os americanos seriam os novos escravos do magnata que, a troco de nada, investem o seu voto num empresário “de sucesso” (à la sonho americano), o qual pouco conhece de direitos dos trabalhadores, mas parece dominar as ideias supérfluas do racismo, do sexismo, do assédio e da covardia. Além disso, receio que, com a vitória do republicano, se acabe a noção de diplomacia nas relações norte-americanas e que assistamos a uma espécie de Brexit à americana, com o desinteresse pelas organizações internacionais. Nem a mais recente vaga de apoiantes “Women for Trump” consegue apagar da minha memória as conversas de balneário do republicano com os seus amigos loiros, de rosto alaranjado pela base em excesso, com discursos machistas, populistas e demagogos.
Do lado oposto, ao longo da campanha de Hillary Clinton, muitas pessoas pareciam mais preocupadas em confrontar a candidata com a governação do seu marido do que propriamente em interpelá-la acerca das suas ideias e carreira política. Sim, porque o meio político não é algo desconhecido para Hillary e não me refiro aos anos em que Bill Clinton foi presidente. Mas sim, aos anos da vida da democrata investidos na sua própria carreira desde que se graduou em Ciência Política, do período de assessora jurídica do Congresso à liderança na defesa da criação do Programa de Seguro de Saúde para Crianças, da Lei da Adoção e da Segurança Familiar e da Lei dos Adotivos Independentes, do período de senadora, sendo a primeira First Lady a concorrer para um cargo político eletivo, ao seu tempo de secretária de Estado do governo Obama quando se tornou a primeira mulher a ser nomeada para a presidência por um grande partido político norte-americano.
Trump coloca abaixo de si as mulheres com quem se envolve, já Hillary vê o nome do seu marido sobrepor-se ao seu na hora de falar em público, na mídia, por entre os republicanos.
 A balança parece estar bem desigual; de um lado, um populista, do outro lado, a miúda popular. No entanto, os americanos parecem estar mais desencantados e divididos do que nunca e isso lá vai beneficiando quem professa separatismos e discursos fáceis de vender, o que, de alguma forma, vai equilibrando a balança.
Resta esperar pela madrugada de terça para quarta, para sabermos oficialmente como culminará esta season finale das presidenciais americanas 2016, com a certeza de que, qualquer que seja o resultado, estas eleições já têm lugar VIP na história política americana e mundial.

«Se Donald Trump ganhar, a América será como um planeta que sai da sua órbita e que viajará sem tino nem destino pelo espaço sideral da vida política global.» in Público
«Jackson acha que o apoio a Trump é, acima de tudo, “uma resistência à Presidência de Obama e aos direitos conquistados pela comunidade LGBT, por exemplo”.» in Público

«“Votei pela primeira vez durante a Presidência de Reagan, e nessa altura era inimaginável virmos a ter um Presidente afro-americano e, possivelmente, uma Presidente mulher. Bastava dizer as palavras ‘Casa Branca’ e a imagem que surgia era a de homens brancos vestidos de fato e gravata. Essa maré tem vindo a mudar muito lentamente nos últimos 100 anos, e por isso olho o futuro com optimismo.”» in Público

Rute Rita Maia

domingo, 25 de setembro de 2016

Sexo, Política e Desobrigações



"Eu e os Políticos" é o nome do livro da autoria de José António Saraiva que  revela pormenores íntimos de personalidades ligadas à nossa política do conhecimento do próprio que decidiu que seria proveitoso colocar em livro. Foi chamado de "o livro proibido do arquitecto Saraiva" ... fica a ideia para uma posterior película de filmes para adultos, se conseguirem um bom duplo para fazer de Paulo Portas (sim porque de certeza que a cena dos submarinos deve vir algures também).

Antes que pensem que isto é logo uma ideia pouco inteligente vou só dizer que este senhor manda no Jornal SOL, logo também não deve primar muito pela eloquência. Este é sem dúvida o livro que faltava nas nossas livrarias, porque também ninguém se ia lembrar de olhar para a politica e pensar que tipo de javardice os senhores faziam sem ser aos nossos bolsos. Sempre, com a minha mais pura inocência, pensei que a massa política só conhecia a posição do missionário, aquela que fazem sempre questão de nos propor sempre que nos querem os subsídios, o 13º mês, as pensões ... é sempre a mesma, mas ao menos já sabemos para o que vamos.

A base do livro, neste caso os seus alvos, está claramente mal cimentada.
Quando pensamos em forrobodó ligado a personalidades políticas pensamos em Mariana Mortágua (com ou sem imposto na retenção na fonte), Marisa Matias ou até Isabel Moreira, e para o lado feminino a coisa ainda podia pedir um João Galamba. Isso sim era serviço público e, com alguma ajuda gráfica, puxava os mais jovens a comprar o livro. Educativo e ilustrativo, como tem de ser.


Mas José António Saraiva preferiu falar de Mário Soares e Manuela Ferreira Leite.
Ninguém no seu perfeito juízo vai pensar "Olha vou comprar este livro para ver o que é que aquela maluca da Ferreira Leite fez naquela noite antes da rentreé do PSD, aquela tola!!" ou "Estou mortinho para comprar o livro e perceber se aquela corcunda do Mário Soares, esse garanhão, é da idade ou se foi de tanto escacar pedra no tempo dele".


Como é que sabes que o teu livro é, no mínimo, complicado de aceitar? Quando a pessoa que tu convidas para o apresentar e a mesma está referida na obra pede para o "desobrigares" a ir por razões pessoais (mesmo quando afirmou que não voltaria atrás na palavra e disse que ia) e porque houve um filtro que foi mal aplicado. Quando os amigos falham à palavra e o filtro não ajuda ... há que desenrascar sozinho, como as vezes tem de ser naquelas noites solitárias caro José Saraiva.

Para concluir apenas dizer que já há locais onde o livro tem 10% de desconto, o que mostra que o reinado das 50 Sombras de Grey pode estar para ser destronado rapidamente. Vou só deixar esta imagem aqui: Grupos de Leitura de mulheres a debater entre si as loucuras sexuais que o nosso Presidente da República andou a fazer antes dos mergulhos no Tejo.

Até à próxima.






domingo, 10 de julho de 2016

Doze anos depois... queremos muito mais!

“Amigos chegou o momento de vos pedir ajuda.
Sei que estamos juntos e todos queremos ganhar o campeonato da Europa. Sei que muitos já colocaram a bandeira nacional nas janelas mas chegou o momento de vos pedir algo mais.
Nós aqui, quando possível vamos espreitar o que vocês dizem nas redes sociais e por isso gostaria de vos pedir que nos motivem… que escrevam e partilhem o vosso apoio, o vosso desejo… queremos sentir ainda mais a vossa força.
Queremos ver as cores de Portugal nos vossos perfis, queremos os sorrisos de uma nação motivada porque todos juntos somos mais que um país, somos uma equipa.
O momento é agora!
Este é o apelo de Ricardo Quaresma partilhado nas redes sociais.
Em 2004, há doze anos atrás, eu tinha apenas oito anos de idade. Era uma criança, mas lembro-me como se fosse ontem da final do Euro frente à Grécia. Nesse ano, curiosamente, o campeonato havia sido realizado em Portugal e, por essa mesma razão, foi provavelmente a primeira vez na minha vida que vi o nome do meu país nas bocas do mundo. Os meus olhos olhavam maravilhados para o meu redor pintado de verde e vermelho. Nunca imaginara algo assim... Tudo o que eles viam era magnífico! O meu pequeno coração palpitava ao som da campanha da Galp, cuja canção nos fazia gritar por "menos ais", pedindo "muito mais".
Foi, sem dúvida, dos poucos momentos em que vi um país inteiro coeso, unido em volta do mesmo palco. Foi a primeira vez que experimentei o sentido da palavra pátria. Só de reviver esses momentos me arrepio...
Foi bom pertencer à geração que vibrou com os golos de Figo, as defesas de Ricardo, a confiança do próprio seleccionador - o mestre - Scolari! A geração que chorou e riu lado a lado com os incríveis 23. A geração que não criticou e que acreditou até ao último minuto que a taça seria nossa. Fomos de uma força capaz de calar o mundo inteiro!
Doze anos depois, ao ver o vídeo «A Marcha de uma Nação!» de Guilherme Cabral, fui transportada para o palco da luz, num regresso incrível ao passado, onde a esperança era tão grande quanto a ilusão e a ilusão tão grande quanto a fé. Agora, doze anos depois, devemos voltar a acreditar. Acreditar com todas as forças e, tal como Eusébio, beijar o relvado e esperar que a magia portuguesa aconteça.
Ainda hoje choro a relembrar esses momentos e essa febre. E espero daqui a duas horas estar a chorar de alegria pela vitória daqueles que depois de convencerem, finalmente, venceram!
Façam-se cordões humanos, cante-se o hino. Hoje quem marcha somos nós!

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brexit: quando o Reino deixa de ser Unido

Nicolas Sarkozy, ex-presidente francês da Direita do país, alertava, no ano de 2007, para a «consciencialização de que os nossos destinos estão agora tão interligados que não mais podemos ignorar o que se passa nos outros países», um dos «aspetos mais positivos da globalização», acrescentou.
A meu ver, o problema do referendo do Brexit não é o facto de ter sido consultada a vontade do povo britânico, mas sim, com ele, terem emergido populismos desmedidos, apoiados pelos conservadores, os quais se aproveitaram deste frágil momento para reproduzir discursos baseados num nacionalismo bacoco, xenofobia, intolerância e em políticas anti-imigração de um carácter protecionista extremamente elevado. Desengane-se quem pensa que foram apenas fatores económicos que despoletaram esta decisão. Foi, principalmente, a vitória do preconceito face à razão. Mascaram-se de discursos independentistas e afirmam o desejo de obter uma maior autonomia, mas deixem-me relembrar que o Reino Unido conseguiu ter cláusulas excepcionais em vários acordos da UE, nem tampouco partilham a mesma moeda. O Reino Unido sempre zelou pelos seus interesses, mesmo que isso significasse complicar ou atrasar os processos de tomada de decisão, com uma capacidade de negociação notável.
Enquanto futura politóloga devo olhar para os números e digamos que eles não me agradam. Desde logo, nota-se um grande fosso entre gerações: os eleitores mais jovens votaram para ficar, já os mais velhos para sair: o que significa que quem mais votou para sair menos tempo viverá com essa decisão, contrariamente, os mais jovens desejavam continuar a viver dentro da UE. Os adultos de amanhã acreditam no projeto europeu. Além disso, alguns jornais afirmam que, somente após o referendo, os britânicos procuraram saber no Google o que é a UE, o que me assusta, pois revela a possibilidade de terem ocorrido votos com uma certa inconsciência.
Independentemente das famílias políticas, para mim, este referendo será sempre um retrocesso. O que vai acontecer à livre circulação de pessoas e bens? A partir de agora, o Reino Unido fica livre de desenhar novas políticas de asilo, de migração e políticas protecionistas, não só económicas, mas também, ao nível da cidadania. E os emigrantes a viver/trabalhar no Reino Unido?
Os britânicos perderam muito mais do que o que ganharam com este referendo. A UE protagonizou avanços muito positivos que, ao fim de tantos anos, não conseguimos reconhecer no nosso quotidiano por os termos dado quase como que dados adquiridos. A comunidade não se representa só pelo seu aspeto económico, mas por um conceito que muito admiro: o de cidadania europeia. Neste sentido, a UE não é um projeto falhado! Trouxe-nos paz e, como sempre ouvi dizer, a União faz a força. Aqui não é exceção. Tenho muitas dúvidas que a globalização nos deixe viver sozinhos.
Voltando aos números, a Inglaterra e o País de Gales votaram pela saída, mas vale a pena lembrar que a Escócia e a Irlanda do Norte desejavam ficar na UE, pelo que este desfasamento pode provocar a desunião dentro do Reino União e estimular estas “nações sem Estado” a lutar pela sua independência. Em Abril passado, quando participei numa conferência internacional na Universidade de Santiago de Compostela, precisamente sob o tema «Stateless Nations and Europe», ainda não se previa este desfecho mas já os especialistas alertavam para a possibilidade de existir esta divergência dentro do Reino Unido.
As vozes euro-cépticas já se aproveitaram deste momento para convencer os europeus e o mundo de que a UE "está a morrer" ou de que este é o fim da comunidade europeia. Contudo, devo dizer que acredito no futuro da União e acredito que, como um órgão vivo que ela é, este será apenas o fim de um capítulo da história da UE e o início de um outro, representando não só uma lição para os líderes da comunidade, como também, uma nova oportunidade para acreditarmos neste projeto.
Torna-se fundamental reviver a UE e recolocar o projeto comunitário no caminho certo, que é, no fundo, apostar numa ação capaz de atuar em todos os Estados-Membros. Trabalhar juntos e em uníssono fará com que nos reconciliaremos com o projeto europeu.

Acreditei que o Bremain saísse vencedor do referendo. Pelos vistos, estava enganada. 


Rute Rita Maia

quinta-feira, 24 de março de 2016

Asilo na UE?


No contexto do encontro em Viena, no passado dia 24 de Fevereiro, que juntou ministros do interior austríacos e dos Balcãs Ocidentais, o país germânico foi severamente criticado pela sua posição quanto à questão da imigração e do asilo e pelas contrariedades que tem revelado. Se por um lado, a Alemanha incentiva a política de portas abertas, perante a Grécia, que é uma das portas europeias; por outro lado, exige à Aústria que pare todos os que querem chegar a solo alemão. Esta situação leva-me a crer que há uma posição proteccionista alemã, que contraria a posição defendida pela União e desafia, até, o supranacionalismo em que esta vive, que promove a partilha de soberania e a obrigatoriedade de certas políticas. Não põe esta atitude alemã em causa o princípio da integração que visa a não discriminação entre Estados?
Enquanto não é implementada uma medida europeia consistente, alguns países afirmam que têm de tomar medidas nacionais. Nem a própria Alemanha, nem a principal porta da Europa, a Grécia, foram convidadas para a reunião. Nesse encontro, “os líderes dos Estados na rota de migração dos Balcãs chamaram para a necessidade de reforçar as restrições nas fronteiras, na ausência de uma solução europeia comum”. A ministra do Interior austríaca defendeu que “parte da razão para o evento Viena foi também para gerar «pressão» para uma abordagem europeia conjunta”. Contudo, o que sai na declaração conjunta do encontro é que “a migração na rota dos Balcãs Ocidentais precisa de ser substancialmente reduzida, porque estão sobrecarregados”. O que, considero, pode pôr em risco a primazia do Direito Comunitário sobre o Individual, uma vez que ignora “a necessidade de proteger aqueles que estão em necessidade real de asilo”.
Esta situação fez com que vozes vindas da Grécia e da Eslováquia proclamassem que todos os membros do espaço Schengen apliquem o Código das Fronteiras em pleno. Como sabemos, o espaço Schengen é a zona de viajar sem passaporte da UE. O Primeiro-Ministro grego, Alexis Tsipras, vai mais longe e ameaça bloquear as decisões da União, caso a Grécia seja deixada sozinha a lidar com a crise de migração. “A Grécia não irá mais concordar com qualquer acordo se os encargos e as responsabilidades não forem partilhados proporcionalmente”, disse.
A Áustria e outros países dos Balcãs Ocidentais concordaram em reforçar os controlos nas fronteiras, tanto que este primeiro anunciou um limite diário quanto ao número de pessoas autorizadas a pedir asilo ou a viajar. Como resultado, os migrantes têm ficado retidos na Grécia. Tsipras não aceita que alguns países se recusem a implementar acordos conjuntos da UE e ajam unilateralmente. O Primeiro-Ministro grego recusa qualquer acordo, a menos que todos se comprometam a manter as fronteiras abertas, acrescentando que o seu país vai exigir a participação obrigatória dos países da UE no acolhimento dos refugiados.
O Alto Comissário para os Refugiados da ONU já tinha alertado que as restrições nas fronteiras ao longo da rota dos Balcãs iriam contra as regras internacionais e europeias.
Segundo os Balcãs, os refugiados devem ficar mais próximos dos seus países de origem e não devem ser autorizados a escolher o seu destino na Europa. Eles concordam que acomodar migrantes deve ser um “fardo partilhado”. A Áustria é criticada por quebrar as políticas comuns da UE ao impôr um limite unilateral, mas há diplomatas que afirmam que “as soluções europeias até agora acordadas não funcionam”.
O evento de Viena veio pouco antes de Ministros da justiça e assuntos internos da UE se reunirem em Bruxelas.
 
Rute Rita Maia

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Obrigado e Até Sempre