"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

The strange case of Vítor Pereira

"Porto de Vítor Pereira é campeão" ... há uns meses não passaria de uma anedota contada por lisboetas e sofrida por nós, portistas.

E é no sofá que este Porto é campeão nacional. Algo que não é habitual, mas que acontece num ano em que os portistas passaram de ganhar e mostrar talento ao Mundo a sofrer a bom sofrer por cada ponto ganho.

Pinto da Costa depois de ver Villas-Boas zarpar para Londres deixou o seu lugar (a tal cadeira de sonho) para Vítor Pereira, o seu nº2 na caminhada triunfal do ano passado. E depois de perdermos aquele selo do golo de seu nome Radamel Falcao, foi tudo menos uma caminhada fácil rumo ao bicampeonato. Não podemos esconder os muitos jogos ganhos a ferros, péssimas exibições, as questionáveis escolhas no que toca a jogadores e estratégias, a desilusão ter saído da Champions e depois o cataclismo que foi sermos goleados contra o City (mesmo sabendo do poderio da equipa de Manchester) ... mas o que é certo é que no fim prevalecem os resultados e o Porto venceu mais uma vez o campeonato.
 
Não sei o que ficou provado com este ano, apenas sei que há um certo alívio nesta recta final do percurso. Será que no Porto qualquer treinador consegue ser mesmo campeão? O que é certo é que Pinto da Costa acertou na escolha nunca perdendo perante os adversários directos ... mas enfim já são 30 anos de muito conhecimento que o nosso presidente tem para ensinar. Arrisco-me a dizer que Vítor Pereira foi o achado que deu razão a quem o escolheu, mas que fez sofrer quem o viu orientar a equipa este ano ... um caso de teimosia que por muitas vezes este ano nos saiu caro.

Ele não é Villas-Boas é certo, não tem o 'charme' para os media e não nego que tem as suas qualidades como técnico, mas este ano foi sempre tremido, por vezes aparecia apático e sem capacidades no banco de suplentes e isso irrita qualquer adepto quando vê o barco a abanar ... Contestado, mas campeão é se calhar a melhor lição a tirar. O abraço que deu a Pinto da Costa no varandim do Dragão soou a despedida, com um misto de emoção de quem no fim de uma viagem complicada finalmente aterrou em solo confortável.

Mas o adepto do Porto que há em mim não quer que permaneçam estes ‘paninhos quentes’: sim vencemos, mas de uma maneira que é quase insuportável para um clube que vibra com o futebol como nós no Norte o fazemos. Parabéns ao Vítor Pereira pelo campeonato ganho e também congratulo os jogadores pelo esforço ... mas espero mais e melhor no próximo ano (e uma cara nova no banco).

domingo, 22 de abril de 2012

Os extremos da vida

Hoje analiso as duas pontas da vida: os bebés e os velhotes.
De um lado o início, aquele ser maravilhoso que mesmo quando berra faz soar um “oh” querido até à pessoa mais fria do mundo ... e do outro o ser que diz “oh” quando vê a conta que tem que pagar na farmácia.

Mas vamos começar pelo início (esta é uma frase estúpida não é?). O bebé tem apenas 4 capacidades: chora, berra, come e dorme. A parte inacreditável é que todas elas são giras para quem às vê. “Olha o menino está a berrar com dores ... mas é tão querido naquele babygrow azul ...”. É avassalador o efeito deles em todo o lado e é algo único, porque se alguém adulto apenas comesse e dormisse era um preguiçoso, mas como é um bebé é a coisa mais fofa do mundo ... não tem explicação lógica, mas essa parte não interessa, logo que as pessoas possam pegar no bebé.

 Sim, ok eu sei que é um ser frágil e que precisa de ser cuidado, mas algo que eu não entendo é o porquê de ser uma espécie de “troféu” quando a família se junta. A criança não tem descanso a andar nos braços de quase todos os parentes e pode berrar à vontade porque “o mal dele é sono”.  Mas para terminar este assunto tão ternorento e fofo (não, não vou dizer “oh fica tão giro a dormir” ...) apenas digo uma espécie de “aviso” para os papás. Alguns têm a estúpida mania de fazer a brincadeira do “quem é o menino do papá? Quem é?” ... é pá se quiserem mesmo saber perguntem à mãe que duvido que o miúdo saiba.

Agora está na altura de falar da terceira idade e que me conhece sabe que eu tenho um certo fascínio por esta fase da vida. Eu sou um simplista por natureza e eu acredito que os idosos sabem que agora os limites físicos existem, mas têm a sua liberdade. Por isso pegam na sua inseparável boina, preparam a sua gravata, a sua melhor camisa às riscas, o seu polozinho, as calças até ao umbigo e lá vão para as ruas e tascas prontos para passar a tarde a falar mal do Benfica, do governo e das farmácias. Como é óbvio o jogo acompanha-os e a palavra “suecada” é ouvido sempre entre os “gangs” que por aí andam (só para tirar possíveis dúvidas, “suecada” é jogar à sueca, não é falar de um possível caso que teve com uma sueca nos anos 80).

Os homens são garanhões “licenciados” e estão sempre de olhos nas jovens, as mulheres são o poço da sabedoria e da cusquice ... enfim é uma fase onde a vida é (quase) bela ... sim porque há sempre um senão ... no caso deles chamam-se TVI e SIC todas as manhãs.
Curiosamente não sei bem como terminar esta crónica ... pensei numa piada sobre choro de bebés, mas pareceu-me mal, depois ocorreu-me uma sobre perda de memória, mas soa a mau gosto e a pouca sensibilidade. Posso ficar a dever um conclusão? Eu prometo que não me esqueço na próxima.

A nação do Norte

Miguel Esteves Cardoso, esse cronista talentoso, inspirou-me para trazer até aos meus rascunhos o Norte; não fizesse eu parte desta “nação”. Não melhor ou pior que todas as outras regiões, mas decerto, com uma característica singular e inconfundível! E que característica…
Somos um povo envaidecido, é certo que por vezes nos tornamos ensurdecedores. Se por um lado os rostos enrugados e o olhar pesado de uma vida madrasta espelham uma alma triste, por outro lado, a azáfama e audácia das nossas gentes preenchem as ruas de ânimo e vida. Despimos a humildade dos pudores de quem é nobre - não o somos tanto assim, infelizmente. Mantemo-nos crus sem vergonha. Sem preconceito. Usamos expressões canibalescas para expulsar o que sentimos. E não vemos nisso um pecado. Somos naturalmente expressivos, desavergonhados e acolhedores. Temos a fervura de uma crença efusiva de que há saída para tudo. E que fase melhor virá. Mantemos tradições que, com tremendo orgulho, gostamos de exibir aos que nos visitam. Damos uma bofetada tão depressa quanto um abraço, porque achamos os apertos de mão uma coisa para chiques. Gostamos disso. Dessa diferença entre nós e os outros. Podíamos mandar em todo o mundo. Suar não é algo que nos estranhe. Gostamos de ver telenovelas e futebol, de cochichar e de dizer que o nosso filho é mais educado do que o da vizinha. Não é por mal; amamos o que nos pertence, seja um bem comum ou individual. Mantemos uma autoestima baixa e isso será provavelmente a nossa maior fragilidade. Somos uma constante contrariedade.
Tudo se grava nos genes destas gentes, cuja pronúncia e perfume as distinguem em todo o mundo. Não há bravura como a nossa. Capacidade de desenrasque como a nossa. Humor como o nosso. E chorar, chorar como o nosso. Quando bate forte essa saudade do que partiu, temos um lamentar peculiar que, embora provenha de tristeza, mais se assemelha a uma cantiga. O cantar de um mal para que não se apodere do que nos resta. E depois temos o paladar das nossas uvas agrestes que nos faz correr mundo. E quanto nós gostamos que o mundo fale de nós! Também gostamos de falar dele, de dizer que lá «é que é». É habitual pisarmo-nos um pouco a nós mesmos. Mas se alguém de fora o fizer, a casa vem abaixo pela certa!

Rute Rita

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Gaspar e o seu “lapso”

“Vítor Gaspar disse ter sido um "lapso" garantir aos portugueses que os subsídios de férias e Natal voltariam a ser pagos após o resgate”  on Diário Económico

É falando de Vítor Gaspar que eu regresso do meu interregno onde deixei de escrever por uns dias (sim eu sei, podia ter escolhido algo mais bonito para falar no regresso, mas falar de futebol agora é aborrecido ... acho que um tal de Meireles chateou muita gente ontem).

Falando do tema ao que parece o nosso ‘rei mago’ Gaspar teve que voltar atrás na palavra. Ops, que raio, coisa que nunca aconteceu a nenhum político, logo isto é bastante grave. Afinal de contas os portugueses não disseram “até já” aos subsídios, mas sim um “depois a gente vê-se ... se calhar”. Foi em Outubro que Gaspar afirmou que os subsídios seriam restabelecidos depois do resgate ... mas agora em Abril parece que não é assim. Se ainda dissesse isto no dia 1 podia ter sido visto de outra forma, mas visto que não foi assim não escapa.

Olhamos para Vítor Gaspar e o que é que vemos, um homem com muito trabalho nas mãos? Sim. Alguém com olheiras que quase chegam aos queixos? Claramente. Um ministro que parece andar aos papéis quando a situação aperta? Nem duvidem  ... mas o importante de referir é que Gaspar é o homem certo, agora para que situação não sei bem, mas é melhor perguntarem a outra pessoa, hoje não estou virado para a economia (deve ser por ser quinta-feira).

Para acabar deixo um videozinho (não, este não tem pudins) de uma música dos Anaquim, que fala do nosso belo país e como nós lidamos com ele.