"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O vício da terceira idade

Quem pensa que tudo acaba quando se passa da meia centena da nossa vida está redondamente enganado. Há um espaço fulcral na vida destes ‘sobreviventes’ de rugas demasiado carregadas e com cartão gold nas farmácias. Hoje revelo o jogo que põe o submundo idoso a mostrar que o poker é coisa de crianças: a bisca lambida.

Há dois sítios onde este jogo é imperial: nas tascas ou nos bancos de jardim ao ar livre. A primeira é para os 'pros' deste desporto onde o prémio final é uma mini e um pires de tremoços; a segunda é para os que gostam do 'show-off' e ganham apenas o pesar das pessoas que passam e que pensam “oh coitadinho, aqui ao frio a jogar as cartas…”.

Isto é bem mais do que um simples jogo. Em meia hora de partida, já passaram pela mesa de jogo todas as reformas dos jogadores (incluindo as das esposas para o bluff), 7 caixas de paracetamol e dois contos do tempo do Salazar. Aqui pouco importa que as cartas estejam marcadas … maior parte dos jogadores sobre de problemas de memória.

Existem dois tipos de jogadores neste perigoso jogo. O primeiro (e o mais vulgar) é aquele que anda em bando rodeado de guarda-costas, todos eles entre as críticas idades de 65 a 72 anos (se passar de 72 ficam muito moles). Esses são aqueles que como trunfo apostam os comprimidos para a artrose para dar a entender que é homem ao ponto que se perder nunca mais anda na vida. O segundo é o que anda sozinho, bem vestido (sempre com a sua camisa de lã por dentro do pólo) e que leva à loucura as idosas com o seu cheio a naftalina. Este leva as coisas mais longe e tudo que seja xarope para a tosse, passando pelos laxantes e acabando nos supositórios é posto em cima da mesa de jogo (quem disse que os velhotes não arriscam depois dos 50 anos?).

Em jeito de conclusão tenho duas coisas a destacar: Se repararem bem há sempre um senhor de boina ou a jogar ou a ver, esse é o olheiro principal e aquele que muito provavelmente tem menos dificuldade no que toca à andar (o mais certo é ver muito o programa do Malato); Seja qual for o resultado da jogatana, nunca acaba em porrada porque maior parte deles sabem que os filhos estão mortinhos para os pôr num lar … e se é para ir de ambulância que seja com dignidade.

Portanto, quando vir 4 ou 5 idosos a jogar cartas não se preocupe, eles sabem o que estão a fazer (afinal a reforma é deles…)

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