Atualmente, a sociedade joga para
fora do campo o que de melhor possui, abraçando, simultaneamente, medos e
desassossegos, silêncios e amarguras. A sociedade de hoje opta por repugnar o
bem que lhe foi concedido: a liberdade de expressão.
Não consigo, portanto, entender como
é que este grupo de indivíduos “humanizados”, que se dizem tão cultos, tão
justos e que sustentam – à primeira vista – uma figura credível, consegue
desperdiçar um direito tão intrínseco como este. O de se exprimir livremente. Não
querendo contrariar o que nos diz Fernando Nobre, “Há momentos em que a nossa
consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos
silenciosos, porque ao não reagirmos somos cúmplices dos mesmos”, creio que as
próprias consciências destes indivíduos se têm deixado degradar pela força
erosiva de outros “bens” a troco de nada. Sim, nada. Nada porque é o silêncio
de uma sociedade inteira que paga esses bens materiais. O «fazer de conta que
não vi, não ouvi, não sei» permite, desta forma, que perante milhares de
crianças que trabalham dia e noite ou perante populações inteiras que vêem a
sua cidade profusamente poluída – não tendo como respirar ar puro por uns meros
segundos – nenhuma resposta seja dada. Por outro lado, não querendo ser
culpabilizadas, as vozes dos mais progressistas soam, quase que de imediato,
pelas ruas alegando que essas são problemáticas da responsabilidade de outras instituições.
Que tais resoluções lhes são transcendentes e que eles, sim, dão uso à
liberdade de expressão quando, e passo a citar, “perante acontecimentos
trágicos”, se indignam contra governos e presidentes. Perdoem-me a rebeldia mas
eu discordo por completo.
Rute Rita Maia,
9 de abril de 2013
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